Cuba não está só!

Cristina Cardoso

Cuba e o seu povo resistem, com coragem, dignidade e unidade

A 3 de Fevereiro de 1962 John F. Kennedy proclamou formalmente o bloqueio económico, comercial e financeiro a Cuba, tendo conferido desta forma um carácter oficial à política de agressão económica que os EUA infligiam a Cuba desde o triunfo da Revolução, a 1 de Janeiro de 1959.

Em 1962, a Administração norte-americana procurava então justificar as medidas de agressão com o pretexto da relação de Cuba com os países socialistas, que dizia atentar contra a segurança dos EUA e do hemisfério, mas as suas verdadeiras intenções tinham sido já delineadas pelo memorando do subsecretário de Estado, Lester D. Mallory, em Abril de 1960: «provocar decepção e desânimo através da insatisfação e dificuldades económicas (...) enfraquecer a vida económica negando dinheiro e suprimentos a Cuba para reduzir os salários nominais e reais, causar fome, desespero e o derrube do governo.»

Os EUA não perdoaram ao povo cubano a sua audácia e coragem que expulsou o ditador Fulgêncio Baptista e conquistou a independência e soberania de um país que estava transformado num parque de diversões para os yanquis e que o imperialismo norte-americano queria anexar. A Revolução cubana tornou-se assim um exemplo que ameaçava a prática de dominação dos destinos da América Latina por meio de governos fantoches ditados pelos EUA, um exemplo de elevação dos povos saqueados contra os seus exploradores e pela sua auto-determinação e emancipação.

Um dia após a declaração do ilegal e criminoso bloqueio a Cuba, Fidel afirmava perante um milhão de cubanos na Praça da Revolução José Martí que «diante da acusação de que Cuba quer exportar sua Revolução, respondemos: as revoluções não se exportam, são feitas pelo povo. O que Cuba pode dar aos povos, e já deu, é o seu exemplo», sendo aprovada por aclamação popular a II Declaração de Havana, que reafirmou o carácter socialista e internacionalista da Revolução cubana.

Há seis décadas que os EUA infligem a Cuba e ao seu povo a guerra económica mais complexa, prolongada e desumana que já infligiram contra outra nação. Um bloqueio económico, financeiro e comercial, com um carácter extraterritorial que impede as relações económicas com países terceiros e obstaculiza ao máximo as operações bancário-financeiras, que tem sido agravado ao longo dos anos. A Administração Trump aplicou 243 medidas coercivas e unilaterais, algumas em pleno combate à pandemia, e incluiu Cuba na sua hipócrita e falsa Lista de Estados Patrocinadores do Terrorismo, em Janeiro de 2021, medidas mantidas por Biden. Os efeitos do bloqueio limitam em muito as possibilidades de desenvolvimento económico de uma ilha que não possui os recursos naturais que garantam a sua auto-suficiência.

Mas Cuba e o seu povo resistem. Com coragem, dignidade e unidade, sob a direcção do Partido Comunista de Cuba na defesa do socialismo e das suas conquistas, tendo sido possível evitar o colapso económico e social e alcançar avanços na saúde, na educação, culturais e científicos inquestionáveis, ombreando com um qualquer país dito desenvolvido.

Mantendo-se firme na defesa da sua Revolução e na construção do seu caminho, Cuba que, nas situações mais complexas e exigentes da sua história, não deixou de ser solidária, necessita da solidariedade dos povos na sua resistência e combate pelo fim ao bloqueio dos EUA. O povo cubano pode contar com os comunistas portugueses.




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