Com a Susan a balizar
Em boa hora decidiu a multinacional Google editar uma newsletter «Google Brief». O seu primeiro número inclui um artigo da CEO do Youtube, Susan Wojcicki, que começa com este educativo parágrafo: «Quando Susan estava a crescer, o pai fugiu da Polónia comunista para os EUA, mas o avô não conseguiu fugir e viveu atrás da Cortina de Ferro. Sempre que Susan escrevia ao avô, preocupava-se com a possibilidade de ser censurada.»
(E tinha razões para tal. Hoje sabe-se que os EUA filtravam e fiscalizavam todas as cartas remetidas para a Polónia, apesar da sua própria legislação o proibir, censurando as cartas de todas as netinhas aos seus avós. Hoje fazem-no, com a cumplicidade da google e outras empresas, a todas as comunicações electrónicas sem distinção de laços familiares ou países de destino.)
E logo no parágrafo seguinte, a Susan continua: «No século XXI, as empresas, a sociedade civil e os governos enfrentam desafios sem precedentes e estão a trabalhar no sentido de balizar a liberdade de expressão.»
Aquele «balizar» até arranha, mas é só quando a Susan nos apresenta os seus princípios sobre a regulamentação da liberdade de expressão online que percebemos com clareza que ela não está a denunciar a censura, está a defendê-la: «Os governos democráticos devem dar às empresas orientações claras sobre os discursos ilegais»; «As empresas devem ter flexibilidade para desenvolver práticas responsáveis para lidar com discursos legais mas potencialmente perniciosos».
Que claro e refinado (digno de uma CEO) o pensamento da Susan... e os governos democráticos... e quem será que decide quais os governos que são democráticos e quais os que não o são? Quais os que podem censurar e quais os que não podem?... e quem será que decide quais os comportamentos legais mas potencialmente perniciosos?
E a resposta é sempre uma e a mesma: a Susan na defesa dos interesses dos grandes accionistas que ela serve. Como diriam na Polónia do avô da Susan: o grande capital.