Mali e França à beira da ruptura

Carlos Lopes Pereira

Agravam-se as re­la­ções entre o Mali e a França, em vés­peras da ci­meira entre a União Eu­ro­peia e a União Afri­cana, agen­dada para os pró­ximos dias 17 e 18, em Bru­xelas.

O pri­meiro-mi­nistro ma­liano, Cho­guel Maiga, voltou esta se­mana a acusar a in­ter­venção mi­litar fran­cesa de ter fa­vo­re­cido os jiha­distas e de se ter trans­for­mado numa ope­ração de di­visão de facto do país.

Num en­contro com o corpo di­plo­má­tico, Maiga cul­pa­bi­lizou Paris de ter ins­tru­men­ta­li­zado a Co­mu­ni­dade Eco­nó­mica dos Es­tados da África Oci­dental (Ce­deao) na apli­cação de san­ções ao Mali. O pro­pó­sito, disse, é apre­sentar o país como «um pária» e as se­veras me­didas apro­vadas têm o fim in­con­fes­sado de «as­fi­xiar a eco­nomia» e pro­vocar a de­ses­ta­bi­li­zação e o der­rube das ins­ti­tui­ções de tran­sição. Mais: «Os di­ri­gentes fran­ceses não dis­seram à sua opi­nião pú­blica, quando in­ter­vi­eram, em 2013, que iam di­vidir o Mali. Não nos podem tornar vas­salos, não se pode es­cra­vizar o país. Isso acabou».

O re­la­ci­o­na­mento Ba­mako-Paris con­tinua a de­gradar-se. A es­ca­lada de ten­sões di­plo­má­ticas é acom­pa­nhada, na ca­pital do Mali, por ma­ni­fes­ta­ções po­pu­lares contra a pre­sença de tropas fran­cesas, a força Barkhane, que opera desde 2014 a pre­texto da luta contra grupos ar­mados jiha­distas ac­tivos na re­gião do Sahel.

Re­cen­te­mente, numa con­cen­tração na ca­pital, os ma­ni­fes­tantes exi­giram que o Mali «possa exercer in­tei­ra­mente a sua so­be­rania na­ci­onal», se­gundo re­latou a RFI. «Quando uma coisa não fun­ciona, não vale a pena in­sistir. Todos en­ten­deram que o fa­lhanço hoje da França no Sahel é vi­sível. Esta po­lí­tica ne­o­co­lo­nial não pode con­ti­nuar», opinou à rádio fran­cesa um dos ma­ni­fes­tantes.

No final de Ja­neiro, o em­bai­xador francês foi «con­vi­dado» a deixar o Mali em 72 horas, após de­cla­ra­ções «hostis» das au­to­ri­dades de Paris, con­si­de­radas «pro­vo­ca­ções» por Ba­mako. Pouco antes, o mi­nistro francês dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros, Jean Yves Le Drian, des­ta­cara a falta de le­gi­ti­mi­dade da junta mi­litar ma­liana, por ter di­la­tado o pe­ríodo de tran­sição para um go­verno civil. E avi­sara que a França e seus par­ceiros pon­deram «adaptar o dis­po­si­tivo mi­litar em função da nova si­tu­ação» no Mali.

De forma con­cer­tada, a Ale­manha anun­ciou há dias que equa­ciona o fim da sua missão mi­litar no Mali. A mi­nistra dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros, An­na­lena Ba­er­bock, ad­mitiu que, «tendo em conta os mais re­centes passos do go­verno ma­liano», Berlim ques­tiona se as con­di­ções para o êxito do com­pro­misso se mantêm.

A Ale­manha tem no país oeste-afri­cano 1.170 mi­li­tares, no quadro da Missão Mul­ti­di­men­si­onal In­te­grada das Na­ções Unidas para a Es­ta­bi­li­zação do Mali (Mi­nusma), força mul­ti­na­ci­onal que dispõe de 15 mil efec­tivos. Um outro con­tin­gente alemão, de 300 mi­li­tares, par­ti­cipa na pre­pa­ração das tropas ma­li­anas, no quadro da Missão de For­mação da União Eu­ro­peia no Mali (EUTM).

A um outro país eu­ropeu, a Di­na­marca, o go­verno do Mali pediu para re­tirar «ime­di­a­ta­mente» a cen­tena de sol­dados che­gados em Ja­neiro para par­ti­cipar na força Ta­kuba. Ba­mako alega que a en­trada das tropas de elite di­na­mar­quesas ocorreu sem o seu con­sen­ti­mento.

A Ta­kuba, cons­ti­tuída por forças es­pe­ciais, foi or­ga­ni­zada por ini­ci­a­tiva da França, em 2020, para «par­ti­lhar» com os seus par­ceiros eu­ro­peus o es­forço da luta anti-ter­ro­rista no Sahel.




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