Negócio da doença com porta-vozes na campanha eleitoral

Vasco Cardoso

O ataque ideológico ao Serviço Nacional de Saúde intensificou-se nesta campanha eleitoral. Os promotores do negócio da doença contam com verdadeiros porta-vozes dos seus interesses seja nos debates, nas entrevistas ou em acções de campanha eleitoral.

O momento é propício. Assistimos ao efeito acumulado de décadas de política de direita de desinvestimento no SNS conjugado com a pressão induzida pelos efeitos de dois anos de epidemia. Diariamente e ao longo dos últimos anos intensificou-se a campanha mediática contra o SNS, acicatada por posicionamentos, como o dos bastonários da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Enfermeiros, inteiramente ao serviço de uma actividade que, como definiu Isabel de Vaz do Conselho de Administração do Grupo Luz Saúde, «melhor negócio do que a saúde só o das armas».

Mas a operação ideológica contra o SNS nestes andamentos eleitorais refinou-se. Os seus promotores não negam a importância do SNS (que o povo português conquistou e reconhece), nem clamam pela sua privatização, preferem falar de liberdade de escolha. Jogam com o desespero da falta de consulta, de médico de família ou do exame que nunca mais é marcado. Um desespero que cresce à medida que cresce o saque dos grupos privados ao SNS. Saque de recursos financeiros – cerca de metade do orçamento no SNS é destinado a compras ao sector privado – e saque de recursos humanos - médicos e enfermeiros – numa situação em que a desvalorização de carreiras e salários destes profissionais facilita a tarefa dos grupos privados. Tudo isto perante a conivência de sucessivos governos, incluindo o actual que, ao recusar as propostas do PCP, faz o jogo do Grupo CUF, do Lusíadas ou da Luz Saúde.

O cínico argumento da liberdade de escolha esconde que, por mais voltas que o mundo dê, o critério dos grupos privados nunca será o de tratar cada um a partir das necessidades de saúde que enfrenta, mas sim, o do máximo lucro. E tal como no negócio das armas, no negócio da doença, o lucro vale mais do que a vida humana.




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