Feira do Livro da OR do Porto foi um sucesso assinalável
Decorreu de 13 a 19 de Dezembro, no Centro de Trabalho da Avenida da Boavista, mais uma edição da Feira do Livro da Organização Regional do Porto (ORP) do PCP. Com livros de todos os géneros, novos e manuseados, é de realçar a rica e diversificada programação do auditório, tendo sido realizadas evocações, sessões e conversas com autores.
Logo no dia 13, a abertura foi dedicada ao lançamento, no ano centenário do seu nascimento, da obra Guilherme da Costa Carvalho – Evocação de um revolucionário, com a chancela das Edições Avante!. Jaime Toga, da Comissão Política do Comité Central, e Jorge Sarabando, da direcção do Sector Intelectual do Porto, intervieram numa sessão que pôde contar com a presença dos dois filhos daquele dirigente e funcionário do PCP, que se manteve na clandestinidade durante 28 anos, 16 dos quais passados nas prisões do fascismo. A evocação, sublinhou Jaime Toga, conhecerá desenvolvimentos no primeiro semestre de 2022: pela «justeza do reconhecimento do seu percurso de vida e pelo exemplo que se projecta no futuro».
No segundo dia, 14, na Feira do Livro esteve Carlos Tê, autor multifacetado – letrista, cantor, escritor de contos, narrativa e musicais. Aquele que será, provavelmente, o mais conhecido letrista português, falou – numa conversa conduzida por Jaime Froufe Andrade – sobre o seu percurso, obra e processo criativo, não deixando de abordar a influência do 25 de Abril nos mesmos e num certo Porto e concepção societal.
Já no dia 15 teve lugar a apresentação do livro 100 Cravos para Vasco Gonçalves, editado pela Associação Conquistas da Revolução (ACR), com a participação de Diana Ferrreira, deputada do PCP, Alexandra Paz, da ACR, e do Coronel Castro Carneiro, militar de Abril, tendo a eleita e primeira candidata pelo círculo eleitoral do Porto enfatizado a importância e futuro do legado de Vasco Gonçalves.
Justiça de classe: Dos tribunais plenários ao período revolucionário e democrático, foi o tema da sessão do quarto dia do certame. Moderada por João Ferreira, da direcção do Sector Intelectual do Porto, contou com as participações de Macedo Varela, advogado, e Manuel Loff, historiador, que reflectiram sobre o sistema de justiça, antes e depois da Revolução de Abril, a partir de experiências relacionadas com os conflitos jurisdicionais como os julgamentos dos crimes políticos pelos tribunais plenários, os de direito de trabalho ou de fiscalização da constitucionalidade.
No dia 16 falou-se sobre Democracia, Liberdade e Futebol numa conversa com Luís de Freitas Lobo, comentador e analista de futebol, moderada por Mónica Santos, jornalista desportiva. Um diálogo sobre um «futebol-sonhado» em apaixonado confronto histórico com o «futebol-negócio», que remeteu para a origem popular do jogo e invocando episódios em que a luta antifascista e antiracista subiram ao relvado; ao passo que no sábado, 17, foi evocado o centenário do nascimento de José Saramago, com a JCP a promover um debate sobre a obra Memorial do Convento.
O momento mais inusitado da programação foi reservado para o último dia da feira, domingo, com cerca de 50 visitantes a aceitarem o desafio para a leitura crítica de uma obra maldita. A partir d’ A Revolução de Maio (1937), de António Lopes Ribeiro – obra propagandista mais simbólica e representativa do regime fascista –, os oradores Silvestre Lacerda, arquivista, e Paulo Cunha, professor do Ensino Superior, delinearam um diálogo aberto e multidisciplinar em torno do lugar da estética e da propaganda na produção cinematográfica da época, e, enfim, das representações do regime fascista português.