Humanizar o Capital? Não vejo jeito
A campanha de Natal da MEO assenta num pequeno filme, em que se vê meia dúzia de pessoas à volta de uma mesa de festa, enquanto a voz off diz que a MEO os juntou para viverem o seu primeiro Natal. O filme acaba com a expressão «MEO – Humaniza-te».
De uma penada, o gigante das telecomunicações nacionais, construído enquanto empresa pública de um sector estratégico, mas entretanto entregue de mão beijada à gula do capital, e que, nos entretens, já serviu para alimentar as negociatas de que se fez a história do capitalismo luso dos últimos anos, revela bem do que são capazes o senhores do dinheiro para servir os seus interesses.
Por um lado, a MEO, invocando 5 causas, tenta agigantar a sua suposta preocupação social, tenta humanizar-se, mas apaga a história de vidas que seguramente tiveram momentos difíceis mas a que não terão faltado momentos de felicidade certa, numa prenda inesperada ou num carinho de alguém querido. Ainda que fosse o primeiro dia do resto das suas vidas não poderia obliterar os dias todos do passado de cada um.
Mas a MEO, que agora está integrada no Grupo Altice, com esta operação paga a preço de ouro às melhores agências de comunicação, tem um objectivo claro.
Procurar lavar a sua imagem, poucas semanas após ter concretizado um inqualificável despedimento colectivo de 204 trabalhadores, que fazem falta à empresa, e serão substituídos, no imediato ou a prazo, por outros, em precariedade e sem direitos.
Estes 204 trabalhadores também têm direito ao Natal. Também têm filhos e netos pequenos. Também têm nomes como os do filme. Também têm sonhos e desejos de uma vida melhor. E este, sim, vai ser o primeiro que a Altice lhes proporciona o Natal sem emprego, sem perspectivas.
O Grupo Altice, descartou estes 204 trabalhadores como já tinha feito a muitos outros porque considera que isso, tal como o anúncio de luzes douradas e dos rostos momentaneamente felizes, é o que serve ao seu interesse mesquinho de acumular lucros. Seja à custa de quem for. O capitalismo não é humanizável.