A malta não quer é trabalhar
A imprensa indigna-se com as suas próprias mentiras: nem por 2000 euros a malta quer trabalhar; milhares de anúncios de emprego sem qualquer resposta; patrões a ter que fechar fábricas, pastelarias, empresas de camionagem, tudo porque ninguém quer trabalhar. E os patrões, desesperados por ajudar o País, por contribuir para a riqueza nacional, exigem do Governo que facilite ainda mais a imigração, para poderem encontrar no estrangeiro quem queira vir trabalhar para Portugal. Mas imagine-se, já nem os imigrantes querem trabalhar, e muitos, assim que se apanham com vistos de trabalho na UE largam os seus empregos em Portugal.
O problema não são os baixos salários nem as condições de trabalho cada vez piores que são oferecidas. Claro que não, isso é conversa de sindicalista, ou de coisa pior, de comunista. Porque, como bolsam os grunhos fachos, «a malta quer é subsídios», «era pô-los a limpar matas», «ninguém quer trabalhar». Ou, como explicam os fachos de gravata, isto é insuportável, mas não se pode aumentar salários porque senão o emprego foge do país, é preciso aguentar. Ambos os fachos, à bruta ou de forma insinuante, dizendo exactamente o mesmo: é preciso obrigar a malta a trabalhar.
É que no fundo o fascismo é mesmo isto, a resposta à necessidade de obrigar a malta a trabalhar. A necessidade dos exploradores obrigarem os explorados a aceitar a exploração.
E depois de conseguir usar três vezes o proscrito termo exploração (e vão quatro!) termino recordando que se longe vão os tempos em que cortavam as orelhas a quem não aceitasse o trabalho dado pelo senhor, perto estão os herdeiros dos crápulas que escreviam ou executavam essas leis. E tal como os seus fidalgos bisavós, eles, os capitalistas, nem sabem nem querem trabalhar, mas sentem-se no direito de exigir que trabalhemos por eles e para eles.