Fesaht responde ao patronato da hotelaria e restauração
Ao imporem como regra salários baixos e horários longos e imprevisíveis, as empresas da hotelaria e restauração provocam desmotivação, rotatividade da mão-de-obra e quebra de qualidade do serviço.
Com a epidemia, os patrões adoptaram uma política social violenta
A Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (Fesaht/CGTP-IN) respondeu na semana passada a afirmações patronais sobre falta de trabalhadores.
Por um lado, «algumas associações patronais, como a AHP, decidiram fazer queixinhas ao Governo, quando um desempregado recusa o salário miserável que lhe é oferecido e as condições violentas de trabalho».
Além disso, no comunicado que a federação emitiu no dia 25 de Outubro, é referido um caso concreto. A Miraneve, em Vila Real, encerrou há um mês o hotel, o restaurante e uma loja, alegando que não conseguia arranjar trabalhadores suficientes para manter as portas abertas. «Mas como queria ter trabalhadores disponíveis para trabalhar, se há anos não pagava os salários pontualmente, tem sucessivamente os salários em atraso e não respeita os direitos», questiona a Fesaht.
É ainda referido o recente anúncio da contratação, pelo Grupo Vila Galé Hotéis, de 150 imigrantes brasileiros e 300 trabalhadores à procura do primeiro emprego. Sobre esta situação, a federação interroga-se sobre as razões que levaram o grupo a despedir «todos os trabalhadores a termo, no início da epidemia», a manter «o recurso ao trabalho temporário e a prestadores de serviços, a quem paga o salário mínimo nacional», e a tentar criar «bancos» de horas «para obter trabalho escravo». Ao Vila Galé, a federação pergunta «que salários e horários vai oferecer aos imigrantes e jovens à procura de primeiro emprego».
Em crise
como em fartura
A federação lembra que, «mal a crise sanitária se instalou, no início do ano 2020, os patrões do sector da hotelaria e restauração adoptaram, desde logo, uma política social violenta, despedindo milhares de trabalhadores contratados a termo e prestadores de serviços, trabalhadores não declarados e trabalhadores no período experimental e, de seguida, recorreram a despedimentos colectivos em massa».
Como tal não bastasse, «retiraram prémios “de línguas”, de produtividade e assiduidade, subsídios de transporte e outras prestações mensais».
Só que tudo isto ocorreu depois de os mesmos patrões «beneficiarem de uma década de crescimento sucessivo de dormidas e fabulosas receitas» e, «simultaneamente, terem congelado os salários desde 2011 a 2018, insistindo numa política de salários baixos e horários longos e imprevisíveis».
«Vítimas desta violência patronal sem precedentes», os trabalhadores «foram encontrando alternativas de emprego ou formas de sobrevivência» e «muitos imigrantes voltaram aos seus países de origem». Alguns destes, afirma a Fesaht, «não querem ouvir falar mais de Portugal, como uma trabalhadora indiana, que foi agredida pela patroa do restaurante, quando reclamava os seus direitos por ter sido despedida sem justa causa, ou duas trabalhadoras africanas, que foram obrigadas a despedir-se, só por reclamarem o pagamento do trabalho suplementar».
Enquanto «todas» as associações patronais (Aphort, Ahresp, Ahisa, Aheta, AHP e ACIF) «recusam sistematicamente negociar a contratação colectiva», as empresas «recusam negociar cadernos reivindicativos para elevar salários e condições de trabalho». Esta «prática reiterada de dezenas de anos» reflecte-se em «desmotivação, rotatividade da mão-de-obra e quebra de qualidade de serviço».
Para a Fesaht, «faltam trabalhadores para empresas que continuam a apostar em condições de trabalho violentas e não alteram o padrão que seguem há décadas».
Reabram o Bingo!
No Ministério da Economia e na Assembleia da República, os trabalhadores do Bingo do Belenenses manifestaram-se na quarta-feira, dia 27 de Outubro, exigindo a reabertura da sala de jogo e a ocupação efectiva dos postos de trabalho, «para que a situação não se agrave mais».
O Sindicato da Hotelaria do Sul, que organizou o protesto, realçou que os trabalhadores enfrentam «muitas dificuldades económicas» e «não entendem o atraso do pagamento dos salários em dívida e subsídio de férias, após o Clube de Futebol Os Belenenses receber apoios do Estado, no âmbito da retoma progressiva para manter os postos de trabalho».
Com os trabalhadores, junto do Parlamento, esteve a deputada Alma Rivera, que reafirmou a solidariedade do PCP e deu conta de uma pergunta dirigida nesse dia ao Governo sobre este caso.
Frente ao Bingo do Boavista, no Porto, manifestaram-se anteontem trabalhadores da sala de jogo, reafirmando o protesto por o Governo, contrariando o compromisso da secretária de Estado do Turismo, não ter nomeado uma comissão administrativa que assegurasse a reabertura da actividade, independentemente dos prazos de concursos abertos para a concessão da exploração.
O Sindicato da Hotelaria do Norte salientou que isso permitiria também que os trabalhadores começassem a receber salário, até porque está a terminar o prazo do subsídio a que recorreram, em Março, ao abrigo dos salários em atraso.