Conversa em família
Comentário de Marques Mendes que não zurza no PCP não é comentário. Aliás nem domingo seria domingo sem essa destilaria anticomunista. Claro que a coisa não se resume a isso. Ali moram outros e convergentes desideratos, não fosse o comentário remunerado por quem é. Se há quem não deixe em mãos alheias o que cuida de não querer perder, esse alguém é o grande capital. Donde, olhe-se pelo lado que se olhe, é isso que ali comanda o que é dito. Acompanhado daquelas revelações secretas só ao alcance de predestinados, daquelas fontes de informação que escorreriam em derrame exclusivo para o seu regaço, daquelas novidades que o comum dos mortais, mesmo os do labor comentarista, não tem o bafejo de possuir.
Sendo qualquer assunto bom para atacar o PCP, não havendo Festa do «Avante!» nem Congresso, o Orçamento do Estado caiu como cereja no topo do bolo. Nada que surpreenda. Só razões que a razão desconhece podia levar Marques Mendes a não desencabrestar contra o PCP a propósito do assunto. Não se identifique nisso algum sinal de novidade. Nem tão pouco aquele ar descontraído no que recita mesmo sabendo que o que hoje diz é o oposto do que antes afirmou, ou o que agora conclui como dado adquirido é o que antes deduzira em sentido inverso. Depois de meses a fio a pressagiar que outra coisa não seria possível que não o PCP aprovar o Orçamento, foram agora transformados nas razões segundo as quais o PCP tinha de o rejeitar. Claro que acompanhado daquela áurea de credibilidade que não resistiria à mínima observação não tivesse por parte de quem lhe assiste à homilia a preciosa ajuda de ali estar tão só para agitar o turíbulo e libertar o incenso que transforma em verdade a mais descarada das mentiras ou a mais óbvia das deturpações argumentativas.