Tambores de guerra
A política externa portuguesa é contrária à Constituição
Os arautos do euro-atlantismo encontram-se numa «azáfama». Ambições militaristas, uma vez mais proclamadas, e os interesses em jogo, são o que a motivam.
Anuncia-se para Novembro a divulgação da dita Bússola Estratégica da União Europeia, isto é, da proposta de um conceito estratégico com que esta pretende relançar a sua, tantas vezes proferida, e por alguns tão ansiada, capacidade estratégica autónoma – ou seja, de intervenção militar, lá onde os interesses das grandes potências da UE estejam em causa.
Há que ter presente que a denominada capacidade estratégica autónoma da UE se concebe, em primeiro lugar, face à sua relação com os EUA, ou seja, à potência imperialista que, perante o seu declínio relativo, procura a todo o custo salvaguardar seu domínio hegemónico, procurando assegurar o alinhamento e a subordinação dos seus aliados.
Por isso mesmo, não vá o diabo tecê-las…, a Bússola com que alguns apontam para a autonomia estratégica da UE – mesmo que esta não venha a ser concebida de igual forma pelos países que a integram – é, desde logo, acompanhada do anúncio de uma nova Declaração Conjunta sobre a Cooperação UE-NATO, em Dezembro – cooperação formalmente estabelecida na sequência da agressão da NATO à Jugoslávia, em 1999.
Não será surpreendente que na nova declaração conjunta se reafirme que a «NATO continuará a desempenhar o seu papel único e essencial como pedra angular da defesa colectiva de todos os Aliados» ou que «as capacidades desenvolvidas através das iniciativas (...) da UE e da NATO devem permanecer coerentes, complementares e interoperáveis» e que «devem estar disponíveis para ambas as organizações».
Solícito, Jens Stoltenberg, Secretário-geral da NATO, lança avisos aos incautos: «não devemos ter uma competição, mas, na realidade, a certeza de que o que a UE faz é complementar aos esforços da NATO»; «temos que garantir que o nosso conceito de segurança permanece uniforme»; «o que é necessário são mais recursos, não novas estruturas».
Em jeito de resposta, a ministra francesa, Florence Parly, garante aos EUA que estes também beneficiarão com a militarização da UE e afirma: «quando ouço algumas declarações na defensiva quanto à defesa europeia e quando observo certas ameaças, incluindo dentro desta organização [a NATO], digo não tenham medo, a defesa europeia não está a ser construída em oposição à NATO, muito pelo contrário (...).» Garantias que terão sido secundadas pela ministra alemã Annegret Kramp-Karrenbauer.
É anunciado que o ambicionado conceito estratégico da UE, agora em discussão, possa ser adoptado no Conselho Europeu que se realizará em Março de 2022, durante a Presidência francesa, antecedendo, assim, a definição do próximo conceito estratégico da NATO, que deverá ser adoptado durante a Cimeira deste bloco político-militar que se realizará em Madrid, nos dias 29 e 30 de Junho.
Para além de contradições entre os EUA e as grandes potências capitalistas europeias, os EUA, a NATO – com a UE como seu pilar europeu, mais ou menos autónomo… – confirmam-se como a mais séria ameaça à paz com que os povos se confrontam.
Pelo que, só pode ser motivo de firme oposição a política externa do Governo português que coloca Portugal ao serviço da estratégia militarista e de confrontação dos EUA, da NATO e da UE, que é contrária aos interesses e aspirações do povo português, que estão consagrados na Constituição da República Portuguesa.