Nomes de guerra

Luís Carapinha

Para o im­pe­ri­a­lismo a guerra é sempre uma opção

A ali­ança mi­litar e tec­no­ló­gica entre os EUA, Reino Unido e Aus­trália (Aukus) abre uma nova frente na es­ca­lada es­tra­té­gica do im­pe­ri­a­lismo contra a China, na re­gião vital que a ter­mi­no­logia do­mi­nante, desde Trump, de­cidiu de­signar de Indo-Pa­cí­fico (em vez de Ásia-Pa­cí­fico) para aco­modar a Índia. O pacto tri­par­tido anglo-sa­xó­nico, ace­nando à classe di­ri­gente de Cam­berra a par­tilha de tec­no­logia avan­çada para dotar o país da Oceânia de uma frota de sub­ma­rinos nu­cle­ares, afi­gura-se como nú­cleo avan­çado da re­o­ri­en­tação global de es­forços dos EUA para lidar com a emer­gência da China, qua­li­fi­cada por Washington como ad­ver­sário sis­té­mico e ameaça exis­ten­cial.

A con­tenção da China joga-se em múl­ti­plos ta­bu­leiros e di­fe­rentes for­matos. Ao Aukus junta-se o Quad (Diá­logo Qua­dri­la­teral de Se­gu­rança), com os EUA, Aus­trália, Índia e Japão. Há a ali­ança de es­pi­o­nagem Cinco Olhos (EUA, Ca­nadá, Reino Unido, Aus­trália e Nova Ze­lândia). E a NATO, con­quanto des­lo­cada, não está fora da equação, com as suas par­ce­rias glo­bais e novo olhar para Ori­ente – de que é exemplo a se­guinte pé­rola da úl­tima Ci­meira, em Junho: «as am­bi­ções de Es­tado e com­por­ta­mento as­ser­tivo da China apre­sentam de­sa­fios sis­té­micos à ordem in­ter­na­ci­onal ba­seada em re­gras e a áreas re­le­vantes para a se­gu­rança da Ali­ança». A UE, com o fa­mi­ge­rado eixo tran­sa­tlân­tico a des­va­necer-se numa ave­nida de sen­tido único, corre para não perder o com­boio, bra­mindo com uma es­tra­tégia pró­pria para o Indo-Pa­cí­fico...

O Aukus trans­porta no bojo a ameaça da pro­li­fe­ração nu­clear e a sen­tença de morte ao Tra­tado do Pa­cí­fico Sul como zona livre de armas nu­cle­ares. De que a Aus­trália é sig­na­tária. A Nova Ze­lândia re­agiu, de­cla­rando que não per­mi­tirá sub­ma­rinos nu­cle­ares aus­tra­li­anos nas suas águas. Di­versos países da ASEAN, e a Rússia, também re­jei­taram o Aukus.

Para o im­pe­ri­a­lismo a guerra é sempre uma opção no ho­ri­zonte. Está nos seus genes. Na cor­rida para im­pedir o de­sen­vol­vi­mento da China e sub­verter o curso so­ci­a­lista da se­gunda eco­nomia mun­dial, os EUA re­correm à pro­vo­cação e chan­tagem, ins­ti­gando novas ten­sões (em torno de Taiwan, por exemplo), e não se detêm pe­rante a de­sen­freada cor­rida ar­ma­men­tista, de im­pre­vi­sí­veis con­sequên­cias. Nos EUA há es­tudos pú­blicos que pre­co­nizam uma guerra não nu­clear contra a China na dé­cada em curso. São alar­mantes as re­ve­la­ções de que no pe­ríodo crí­tico do final da Ad­mi­nis­tração Trump, o chefe do Es­tado-Maior dos EUA te­le­fonou se­cre­ta­mente a Pe­quim para as­se­gurar que o país não ata­caria a China.

De 1945 a 1949, os EUA de­li­ne­aram em con­luio com o Reino Unido vá­rios planos de ataque nu­clear à URSS. Dropshot e Trojan eram dois dos seus nomes de có­digo. Hoje, um con­fronto mi­litar com a China não é ine­vi­tável, nem o im­pe­ri­a­lismo é om­ni­po­tente, apesar da tra­jec­tória ine­xo­rável, mas não li­near, de es­tag­nação e de­clínio dos EUA aci­catar o be­li­cismo – e a ir­ra­ci­o­na­li­dade dos sec­tores mais re­ac­ci­o­ná­rios de um sis­tema cres­cen­te­mente ins­tável e per­pas­sado por con­tra­di­ções. Pe­quim con­ti­nuará a re­forçar a ca­pa­ci­dade dis­su­a­sora. A questão cen­tral da com­pe­tição com o ca­pi­ta­lismo joga-se na pro­du­ti­vi­dade e a China não está dis­posta a ab­dicar da sua so­be­rania e de­sen­vol­vi­mento. No nosso tempo con­tur­bado não há al­ter­na­tiva à co­e­xis­tência e a luta em de­fesa da paz mun­dial é cada vez mais uma ta­refa pro­e­mi­nente.




Mais artigos de: Opinião

Toxicidades

«Relativamente ao fim da vida útil, a excreção humana e os tratamentos de águas residuais colocam um fardo adicional nos impactos ambientais». Este primor do labor parlamentar, esta pérola da prosa legística nacional, pode ser encontrada no Projecto de Lei do PAN, esta semana discutido na Assembleia da República, que...

Casa aberta

O Governo anunciou que no primeiro sábado em que funcionou a modalidade «casa aberta» para renovar o cartão do cidadão ou o passaporte foram emitidas 5500 senhas. Trata-se de uma medida que se destina a regularizar os atrasos acumulados pelos sucessivos confinamentos e encerramentos dos serviços públicos no último ano e...

No fundo, e querem que lá fiquemos

A convergência PS-PSD-CDS-IL-Chega votou na AR contra a proposta de aumento do salário mínimo apresentada pelo PCP. Os mesmos que eternizam o bloqueio à contratação colectiva declararam que o assunto pertence à «concertação social». Se levarmos a sério o que está no papel e fontes da Internet, o salário mínimo em...

Se calhar

Dias depois de PS, PSD, CDS-PP, Chega e Iniciativa Liberal terem ‘chumbado’ na Assembleia da República o projecto de resolução do PCP que recomendava ao Governo o aumento do Salário Mínimo Nacional para 850 euros, o presidente da CIP, António Saraiva, afirmava em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios que «se...

Ao teu lado, todos os dias

A pa­lavra de ordem que dá o mote à in­ter­venção do Par­tido nesta fase – «PCP, Força de­ci­siva, ao teu lado todos os dias» – contém um pro­grama de grande im­por­tância, sig­ni­fi­cado e den­si­dade po­lí­tica que im­por­tará si­na­lizar.