À sombra da epidemia, medra a exploração
Os trabalhadores despedidos pelas empresas do Grupo Madureira’s continuam a exigir os direitos devidos, tendo-se mobilizado, na passada sexta-feira, frente à porta do restaurante Madureira’s Rio Tinto, reclamando os seus créditos.
Segundo o Sindicato do sector – Sindicato de Hotelaria do Norte (CGTP-IN) –, tratava-se da quinta acção de protesto frente a empresas do grupo, que se aproveitaram da epidemia para despedir mais de 50 trabalhadores, não lhes pagando os direitos devidos.
É sabido tratar-se de um grupo com cerca de duas dezenas de restaurantes cujas empresas, segundo o Sindicato de Hotelaria do Norte, vivem uma boa situação económica: nos últimos anos, o Grupo cresceu muito e é bem visível o nível de riqueza dos seus sócios.
Ora, em nota à imprensa, o Sindicato da Hotelaria do Norte afirma que a gerência do Madureira’s Rio Tinto, logo que se apercebeu da chegada dos manifestantes, de imediato mandou retirar os quatro Porsches de alta gama que estavam estacionados à porta dos escritórios, em frente ao estabelecimento, de modo a afastá-los da vista dos trabalhadores.
Trata-se de mais um caso a confirmar uma situação, na qual uns poucos, usando e abusando da epidemia continuaram a ganhar, acumulando lucros e dividendos, quando não mesmo a apropriar-se de vultosos recursos públicos, enquanto a maioria perde, nomeadamente condições de vida, de trabalho, de saúde, de direitos.
A propósito, relembre-se e sublinhe-se que em 2020, ano de particular impacto da epidemia, os accionistas do conjunto das maiores empresas, designadamente NOS, Sonae, Brisa, Galp Energia, EDP, CTT, Jerónimo Martins, Corticeira Amorim, arrecadaram 7,4 mil milhões de euros de dividendos, mais 332 milhões do que em 2019. E já se anunciam novos e mais volumosos lucros nos dois primeiros trimestres de 2021.
Ora aí está mais um exemplo do carácter desumano do sistema capitalista e dos que nele medram, aproveitando-se da epidemia para agravar a exploração e fazercrescer as desigualdades sociais. E que se preparam para abocanhar novos e mais volumosos fundos públicos (nomeadamente do PRR), ao mesmo tempo que vão pressionando para que haja alterações à legislação laboral, para pior, ou mesmo para evitar reversão de malfeitorias, por mais singelas que sejam.
Não vale a pena esconder o sol com a peneira. O grande patronato só assim age porque sente as costas quentes nas opções, posições e medidas do Governo. Mas, como a luta dos trabalhadores vai mostrando, é possível resistir, travar-lhes e derrotar-lhes os intentos.