Manel Cruz e a comunicação de emoções através da música

Manel Cruz, a voz dos Ornatos Violeta, segue agora uma interessante carreira a solo, materializada no disco Vida Nova, de 2020. Na Festa estará acompanhado pela fadista Aldina Duarte, que admira, determinado a provar que mais do que o rock ou o fado, o que efectivamente conta é a música e a sua capacidade de unir as pessoas.

Manel Cruz e Aldina Duarte criaram fortes laços ao longo dos anos

O seu álbum Vida Nova tem letras sobre comportamentos individuais e sociais, muitas vezes escritas e cantadas em tom crítico. É um disco de intervenção?

Considerando que qualquer reflexão social é um acto de intervenção pode dizer-se que sim. Mas sempre me habituei a referir-me à música de intervenção pelo seu pendor político numa forma mais directa. E é uma abordagem a que normalmente me furto, por sentir dificuldade em fugir da ambiguidade em que o meu pensamento se move.

 

Nas canções de amor que escreve nota-se também um sublinhado constante da lógica da igualdade de poder entre os parceiros envolvidos. Por exemplo, logo no início da canção Navio Dela diz-se isto: «A minha mulher não é minha/ É da cabeça dela/ Mesmo achando que sim/ Não precisa de mim/ Isso é o que me agrada nela.» A sua poesia defende que igualdade melhora as relações amorosas? Porque sente necessidade de afirmar isso – não é um tema do passado?

As relações humanas nunca serão um tema do passado. E é disso que se trata. Não de homens e mulheres, mas de pessoas.

 

Porque é que pediu a Aldina Duarte para ser a artista convidada do seu espectáculo na Festa?

Porque gosto muito dela, pessoal e profissionalmente. Temos criado um laço ao longo dos anos que dá um sentido especial a este encontro.

 

Há alguma coisa que ligue o fado de Aldina Duarte à sua música, à música de um homem artisticamente marcado pelos 11 anos de rock alternativo feito nos Ornatos Violeta?

A mim não me interessa o fado ou o rock, interessa-me a música ou qualquer forma de expressão artística como forma de unir as pessoas em torno da comunicação das emoções. A partir desse precedente tudo pode fazer sentido.

 

Foi um dos artistas que participou em concertos solidários para dar apoio alimentar a profissionais do audiovisual que ficaram sem fontes de rendimento com a fecho dos espectáculos, por causa da pandemia. Como é que o profissional Manel Cruz tem vivido este tempo?

Em viagem constante entre o meu planeta e o dos outros, como sempre. Fazendo o que posso e consigo por esse equilíbrio frágil.

 

Em 2020, a Festa do Avante! permitiu que vários artistas exercessem a sua profissão com segurança – tanto para eles como para o público. Como avalia o exemplo dado pela Festa acerca da possibilidade de organizar eventos de grande dimensão nestas condições e o facto de o mesmo não ter sido seguido

por outros promotores?

Não é fácil generalizar num contexto tão amplo e num processo que foi desenrolado no desconhecido. Tenho de salientar que nos espectáculos em que estive envolvido notei que o profissionalismo de todos os agentes do mundo dos espectáculos, desde os músicos, aos técnicos, até aos assistentes de sala foi de registar. Tudo correu com um profissionalismo exemplar, numa cooperação sem precedentes. O que a dada altura me fez crer que era possível e justo manter os espectáculos.

Mas acredito que as condicionantes políticas para as decisões que foram sendo tomadas transcendem a análise específica dos sectores. Depois, a questão económica que teve implicações na capacidade ou vontade de levar espectáculos a cabo, que é uma questão complexa, com imensas variáveis, e sobre a qual não me sinto a pessoa mais avalizada para falar. No entanto, quero acreditar que se poderiam ter realizado festivais menos dispendiosos, recorrendo a artistas nacionais e aceitando um lucro mais contido. Mas, como disse, não me sinto capaz de fazer juízos peremptórios.

 

Para além dos convidados, foi solicitado aos artistas da Festa do Avante! que interpretem nos seus espectáculos uma das canções incluídas no álbum Cantigas do Maio, de José Afonso, um marco na evolução da música portuguesa e que foi lançado há 50 anos. Aceitou o desafio?

Não aceitei, apesar da admiração pelo Zeca Afonso. Por motivos de tempo e ânimo, não senti ter possibilidade de me dedicar ao evento com a vontade que necessito e optei por não aceitar. Há momentos para tudo e como tal às vezes também para nada.




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