Os entrevistados

Manuel Gouveia

Um tem como profissão assessorar empresas a fugir aos impostos. Outro é casado com uma administradora de uma empresa, nomeada após a privatização realizada por um governo integrado pelo esposo. Outro acaba de ser nomeado administrador da empresa que mais beneficiou com a renegociação de contratos de concessão quando era ministro. Outro preside a uma empresa privatizada com a sua assessoria ao vendedor. São alguns dos rostos da direita que a Comunicação Social anda agora a tentar vender como os campeões da luta contra a corrupção e o compadrio... da esquerda.

Um produto que assenta em duas mistificações: que este governo é a esquerda, da esquerda ou sequer de esquerda; que há inocentes vestais a localizar no conjunto de partidos que têm protagonizado a política de direita, a reconstrução do capitalismo monopolista e a submissão nacional ao processo de concentração e centralização capitalista conduzido pela UE.

A política de direita é por definição corrupta: Ela trata da entrega ao grande capital, a um conjunto reduzido de famílias e pessoas, do essencial da propriedade nacional, dos nossos serviços públicos e da riqueza produzida pelo nosso povo. A política de direita é por definição corruptível: ela negoceia o grau de favorecimento dos diferentes conjuntos de capitalistas, gere as opções entre interesses egoístas e contraditórios e polariza a riqueza. A política de direita é necessariamente opaca: se fosse transparente, os seus executantes seriam corridos à pedrada dos seus postos no templo. A política de direita é imperiosamente falsa: ela não pode assumir os seus objectivos nem sequer a sua natureza de classe.

É por isso que a política de direita (e os políticos da política de direita) só sobrevive surfando as ondas criadas pelo conjunto dos instrumentos de dominação do grande capital. E isso também tem um preço. Que uns pagam alegremente, outros pagam contrariados e outros se recusam a pagar. Nenhum destes últimos é Ministro ou sequer ministriável. E nunca terão direito (nem necessidade) a entrevistas de 6 páginas com os «jornalistas» a fingir ignorar todos os elefantes que circulam pela sala.




Mais artigos de: Opinião

Venezuela - Solidariedade!

O imperialismo não pretende prescindir dos seus intentos e manobras contra a República Bolivariana da Venezuela e o povo venezuelano. É o que é possível depreender da declaração conjunta dos EUA e da UE, a que se associou o Canadá, tornada pública no passado dia 25 de Junho. Mantendo aspectos essenciais da política de...

Partilha de dados, negócios & NSA

O envio pela CMLisboa dos dados de promotores da «manifestação» de Janeiro aos serviços da Embaixada da Federação Russa é grave e injustificável (embora constassem no facebook), mas só persiste na agenda para provocação à Rússia e anticomunismo dos media e das classes dominantes. Esta partilha de dados deve ser...

Risco de pobreza aumentou para quem trabalha

Os dados publicados pelo Eurostat, o gabinete de estatística da União Europeia, na passada segunda-feira, ainda são provisórios, mas indicam que o risco de pobreza aumentou em Portugal em 2020, ano marcado pela epidemia da covid-19, para as faixas etárias até aos 65 anos. No que diz respeito à população em idade...

Mikhail e a Memória

Mikhail Gordon tem 92 anos e é bielorrusso. Era ainda pouco mais que uma criança quando, em Junho de 1941, foi apanhado pela invasão nazi, que lhe mataria quase toda a família e um quarto dos seus compatriotas. Oito décadas volvidas, guarda vivas memórias dos acontecimentos, que terá contado vezes sem conta na sua já...

Biodiversidade: ver a árvore e não ver a floresta

Recentemente, numa série de perguntas de um órgão de comunicação social sobre questões ambientais, um jornalista questionava a razão pela qual a proteção da biodiversidade e dos ecossistemas está fora das várias propostas apresentadas pelo Governo e partidos para a chamada Lei do Clima.