Olhar transformador sobre o mundo e a vida
Com nova localização, que duplica a área de plateia, o Avanteatro privilegia este ano a expressão artística do teatro de rua. De resto, a qualidade de sempre e aquela inquietação de quem vive a transformar o mundo e a vida.
São seis os espectáculos que este ano compõem a programação do Avanteatro, alguns dos quais terão mais do que uma apresentação. O substancial alargamento da área de plateia, que a mudança de localização do espaço possibilita, garantirá melhores condições para o público fruir dos espectáculos. À semelhança dos restantes espaços, haverá equipas permanentes de higienização, pontos de lavagem e higienização das mãos, circuitos definidos e controlo de entradas: é só ir e aproveitar, que há boas razões para isso.
A ida ao teatro e outros textos de Karl Valentiné uma produção do Teatro da Terra, com encenação de Maria João Luís, que é igualmente uma das intérpretes. Críticos e divertidos, os duelos que a personagem trava com comerciantes, funcionários, polícias e outras figuras da rua, desafiam lógicas vigentes acerca da vida do quotidiano. Com texto de Carlos Tê e encenação de Luísa Pinto, Um fio de jogo reúne um treinador de futebol, um intelectual/adepto/comentador de televisão, um relator da rádio, um ponta-de-lança brasileiro em fim de carreira. Um actor que se desdobrando em quatro personagens que discorrem sobre o fenómeno do futebol, os seus clichés e pequenos mitos.
Dramatização do real
Coragem hoje, abraços amanhã, de Joana Brandão, dá voz a mulheres que estiveram presas pelo fascismo, que sofreram a tortura do sono ou da estátua, a violência da privação da liberdade. Construído a partir de testemunhos, cartas e outras memórias, centra-se no lado humano das vivências desumanas de muitas dessas mulheres, que eram filhas, mães e companheiras de alguém. Para que a memória não se apague…
Sombras, por seu lado, propõe uma reflexão sobre o mundo emocional de uma vítima de violência doméstica. Com um estilo muito próprio de encenação, o Teatro Só traz uma vez mais para o teatro de rua temas de difícil teor de entretenimento e socialmente estigmatizados, também aqui a partir de relatos de experiências reais, recolhidas em casas de acolhimento e justo de psicólogos e vítimas.
Crianças... e um
recordista mundial
A Companhia de Teatro de Almada leva ao Avanteatro O fantasma das melancias, com encenação de Teresa Gafeira. Este é um espectáculo com três histórias, escritas por três autores argentinos, que dá vida a um velho avarento, a um galo que queria ter dentes e a um menino da mamã que, só porque sim, tratava mal as melancias do quintal.
Não é fácil definir o espectáculo Living Statues DJS: Música? Performance? Poesia? Tudo isso? O que se sabe, porém, é que há referências à Revolução de Abril e ao seu poeta maior, José Carlos Ary dos Santos. Quanto ao grupo, mistura conceitos aparentemente tão diferentes como estátua viva e djs, idealizado por Staticman, recordista mundial de imobilidade e pioneiro na arte da quietude a nível mundial.