A vida de Américo Leal é exemplo de persistência

Militante do PCP durante 77 anos e funcionário do Partido desde 1947, Américo Leal faleceu aos 99 anos, deixando um legado de dedicação e coragem na luta pela liberdade, a democracia, o socialismo e o comunismo.

É a persistência da luta que constrói a liberdade e a emancipação

Do desaparecimento de Américo Leal, dia 18, deu conta, no dia seguinte, em comunicado, o Secretariado do Comité Central do PCP, que manifestando «profunda mágoa e tristeza» pelo falecimento do camarada, destacou o «resistente antifascista» e a sua «luta pela conquista da liberdade e a democracia para os trabalhadores e o povo». Salientou ainda o seu exemplo de que «é a persistência da luta que constrói a liberdade, a emancipação e a felicidade dos trabalhadores e do povo».

O corpo de Américo Leal esteve em câmara ardente em Sines, a sua terra natal. Na ocasião, um dos seus filhos, Joaquim, exaltou a sua integridade moral e a dedicação ao seu Partido de sempre, realçando o grande e positivo impacto que tal teve na família.

Francisco do Ó Pacheco, por seu lado, sublinhou o papel de Américo Leal enquanto resistente antifascista, militante comunista e funcionário clandestino, particularmente entre os trabalhadores e o povo de Sines e na dinamização da sua acção e organização, antes e depois do 25 de Abril.

Já no Cemitério da Paz, em Algeruz, Setúbal, antes da cremação dos restos mortais de Américo Leal, na presença do Secretário-geral do Partido, de membros dos organismos executivos do Comité Central, de dirigentes e membros da URAP (entre os quais o seu coordenador José Pedro Soares), de militantes comunistas e amigos, Armindo Miranda, da Comissão Política, evocou o percurso exemplar de Américo Leal e lembrou que, neste contexto, «é obrigatório referir a camarada Sisaltina Santos, falecida há três anos, sua companheira de vida e de luta».

«Américo leal e Sisaltina Santos, nas suas longas vidas, são exemplos de que a forma mais digna de viver a vida é com empenhamento total e permanente em transformá-la». São também exemplo de que, «mesmo em momentos mais difíceis e negros da história da Humanidade, houve sempre – haverá sempre –, mulheres e homens que se levantam contra a exploração capitalista, na defesa da liberdade e da democracia, na luta pelo socialismo».

Foi ainda lida uma carta deixada por Américo Leal.

Uma vida de luta

Américo Leal era natural de Sines, onde nasceu a 20 de Janeiro de 1922. Começou a trabalhar como operário corticeiro aos 12 anos, idade em que ficou órfão. Em 1943, em Lisboa, é preso pela PIDE, permanecendo 45 dias no Aljube, onde conheceu Militão Ribeiro, dirigente do PCP também preso, que o liga ao Partido.

Em 1944 aderiu ao PCP, quando regressou da tropa e à sua terra. Assumiu tarefas na ligação à indústria corticeira e na direcção regional do Alentejo Litoral. Integrou o Comité Nacional da Cortiça. Nos finais de 1945, estava entre os corticeiros que expuseram ao governo a necessidade de um acordo colectivo de trabalho, conquistado em 1947.

Fez parte da comissão local do Movimento de Unidade Democrática (MUD).

Uma jornada de inscrições nas paredes de Sines levou à sua perseguição pela GNR. Em 1947, passou à clandestinidade, e a funcionário do Partido, com a sua companheira Sisaltina Santos, com quem tinha casado em 1946.

Durante os 27 anos na clandestinidade, assumiu tarefas em diversas regiões do País. Foi cooptado para o Comité Central do PCP em 1956, de que fez parte até 1988.

Em 1974, aquando do 25 de Abril, encontrava-se no Porto. Regressou a Sines, dias depois do 1.º de Maio, com a sua companheira, onde são recebidos efusiva e calorosamente.

Assumiu responsabilidades ao nível das organizações concelhias do sul do Distrito de Setúbal. Passou, nessa altura, a integrar a Direcção da Organização Regional de Setúbal, a que pertenceu até 2015. Américo Leal teve um papel destacado no trabalho de direcção do Partido na luta da Reforma Agrária.

Foi deputado à Assembleia Constituinte e nas duas primeiras legislaturas da Assembleia da República.

É autor dos livros O rosto da Reforma Agrária e O Vale do Sado no Mundo de dois opostos, editados pelas Edições Avante!, e de Quem somos! - Testemunhos (edição de autor).

Empenhou-se na actividade da URAP e da Comissão de Utentes da Linha do Sado.




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