Por Abril ou contra Abril?

Manuel Rodrigues

Ainda os 50 anos do 25 de Abril vêm longe e já se levanta nova vaga contra as suas conquistas e valores numa ofensiva ideológica carregada de ódio por parte de conhecidos arautos da direita. Direita, aliás, que esteve sempre contra Abril e que, portanto, também não suporta que as comemorações dos seus 50 anos sejam outra coisa que não o seu velório.

Desta vez o mote é a nomeação pelo Governo do comissário executivo da estrutura de missão para as comemorações, que se assinalam em 2024.

Não é que os nomes sejam coisa de somenos importância. Mas, mais importante que os nomes é conhecer os objetivos e critérios que presidirão às comemorações. É saber se estas vão servir para assinalar o processo de afirmação de liberdade, de emancipação social e de independência nacional que a Revolução de Abril representou ou, pelo contrário, para branquear o fascismo e a sua tenebrosa herança de exploração, opressão, terror, obscurantismo e retrocesso social.

É saber se irão servir para afirmar e projectar os valores de Abril ou se, pelo contrário, vão servir de mote a mais uma campanha contra Abril, reescrevendo a história, apagando (ou adulterando) a decisiva acção de massas, o determinante papel do PCP, a acção do MFA, o extraordinário valor das conquistas alcançadas e a heróica resistência à política de direita desde há décadas apostada na destruição dessas conquistas.

A avaliar pelas declarações que vão sendo conhecidas, é de envergadura a campanha que a direita reaccionária já prepara: das vociferações de Rui Rio, ao bolsar de André Ventura, à gritaria de um sem-número de comentadores, é contra Abril que investem a sua artilharia, como se nota nesta reveladora afirmação de JMT (Público de 10 de Junho): «Isso significa que Pedro Adão e Silva não está apenas contratado para contar a história como ela foi, mas sim para estabelecer a versão neo-socialista e delicodoce dos últimos 50 anos, reinventando um “arco democrático” que foi muito pouco democrático até 25 de Novembro de 1975».

Afinal, a questão central que está colocada é mesmo esta: comemorações por Abril ou contra Abril?




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