Coelima: um exemplo entre muitos outros

Belmiro Magalhães (Membro da Comissão Política)

Como o PCP tem afirmado, é necessária uma política com vista ao desenvolvimento do País, que garanta o emprego, salários dignos, o crescimento económico e a defesa do aparelho produtivo.

O Governo não pode condescender com atropelos a direitos

Os tempos que vivemos, marcados pelos impactos reais da epidemia mas muito também pelos maliciosos aproveitamentos da mesma por grupos económicos e financeiros, reforçam esta urgência. País fora, são incontáveis as situações de atropelos aos direitos dos trabalhadores e de incerteza sobre o seu futuro.

O caso que se refere agora é um desses exemplos. A Coelima é uma centenária empresa têxtil de Guimarães. Actualmente com 250 trabalhadores, outrora chegou a contar com milhares. Ao longo dos anos passou por processos de insolvência, compra e fusão, nos quais a acção organizada dos trabalhadores foi um elemento determinante para preservar a empresa. Por estes dias, novamente, a Coelima vive interrogações sobre o futuro. Em Abril, a Administração em funções apresentou-se à insolvência. Os argumentos foram a pandemia e a falta de linhas de apoio. Ficou então o compromisso de apresentação de um plano de recuperação. A Administração, que conhecia bem a situação da empresa, as suas potencialidades e debilidades, afirmou que a intenção era a recuperação da mesma e até que estava «empenhada em prosseguir com a actividade da empresa».

Mas este compromisso ficou por cumprir. Vencido o prazo, a Administração não apresentou qualquer plano. Esta opção criou apreensão, sendo ainda mais difícil de explicar por se tratar de uma empresa que não estava, como os documentos oficiais atestam, em insolvência, mas sim em perigo de insolvência. Aliás, os números divulgados publicamente demonstram que os activos e os passivos estavam até equilibrados, sendo que uma significativa parte da dívida era ao grupo de que a Coelima faz parte. Leia-se da petição inicial de insolvência que «apesar de se encontrar, comprovadamente, numa situação de insolvência iminente, as actividades que a Coelima desenvolve continuam a gerar valor, o que permite afirmar que a Requerente é susceptível de recuperação…». Mas as contradições e manobras não se ficam por aqui. Há versões diferentes entre a Administração e o Governo sobre o acesso a apoios públicos, para além de estar mal contada a coincidência da saída do Administrador na véspera do anúncio do pedido de insolvência, depois de ter andado anos a preparar esta situação.

 

Resistir e lutar

A acção organizada dos trabalhadores, de que o plenário feito à porta da empresa com uma massiva adesão é exemplo, tem sido um elemento fundamental de defesa da Coelima. Foi assim no passado e volta a ser no presente, demonstrando na prática que são os trabalhadores e os seus sindicatos de classe quem mais se bate pelos postos de trabalho e prossecução da actividade das empresas.

O PCP, consciente da importância da Coelima e dos possíveis impactos sociais e económicos, tem mantido uma intervenção diversificada sobre a situação. Para além da presença solidária e regular na empresa, levou a questão várias vezes à Assembleia da República e Parlamento Europeu. Os eleitos da CDU deram voz ao problema nos órgãos autárquicos locais.

O Governo, que tem responsabilidades que o obrigam a acompanhar e intervir na situação, tem mantido uma postura deliberadamente passiva.

Confiamos que os trabalhadores da Coelima, com a luta que travam, serão bem sucedidos na defesa do sector têxtil e da região. Mas a Coelima não é caso único. De norte a sul do País são muitas as situações com elementos de semelhança. Portugal tem um imenso potencial de desenvolvimento que não pode continuar a ser comprometido. Chegamos aqui porque PS, PSD e CDS desvalorizam a produção nacional, acentuando debilidades estruturais do País e criando uma economia cada vez mais fragilizada, num quadro em que os ataques ao trabalho e aos trabalhadores são a outra face das mesmas políticas. A vida confirma que é preciso mudar de rumo e o Governo do PS não pode continuar a repetir palavras doces mas depois condescender com tantos e tão graves atropelos a direitos e factos contrários ao interesse nacional.




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