Nem carne nem peixe…
Não passou despercebida a enorme atenção que despertou o mais recente congresso do PAN aos principais órgãos de comunicação social. Apesar do reduzido número de «congressistas», da pouca representação eleitoral e até social desta força política, apesar da marginalidade e vacuidade dos temas que marcaram a discussão dessa iniciativa, o congresso do PAN teve honras de cobertura mediática só compreensíveis pelos diversos interesses que se cruzam em torno da sua promoção.
Como agora se diz, o PAN está a ser desenhado para responder às necessidades do mercado, neste caso, do «mercado eleitoral». Tem potencial para agregar muitos dos que sentem afecto ou possuem animais de companhia, tem margem para arregimentar muitos dos que optam por fazer uma alimentação vegetariana, tem condições para iludir sectores com crescentes preocupações ambientais (ainda que de ambiente fale muito pouco ou quase nada) e, tem ainda, essa enorme particularidade que é a de se apresentar como não sendo nem de esquerda nem de direita, ou seja, acima de qualquer suspeita de poder ser de esquerda.
Com tais predicados o PAN é visto e tratado pelos principais órgãos de comunicação social como um partido com enorme potencial, ainda para mais, quando se apronta para «ser governo» até 2030, deixando implícito que, para tal, tanto dará a configuração e políticas desse mesmo governo desde que se garantam coisas absolutamente fundamentais como comida vegetariana para animais ou a proibição das actividades tauromáquicas.
O PAN é «um partido de causas» ao contrário dos «partidos tradicionais», como agora se costuma dizer, e pouco dado a definições e posicionamentos claros no plano ideológico que, aliás, só atrapalham. No PAN o carácter predador do capitalismo sobre os recursos do planeta é ignorado. E se a sua relação com os animais vai ao ponto de os usarem para reivindicar uma revisão da constituição (como se ouviu no dito congresso), já a sua relação com a natureza limita-se à apologia das «energias verdes», do «poluidor pagador», da «descarbonização», mesmo que à custa da soberania nacional e de poluição encoberta, e sem nunca pôr em causa o poder e o papel do grande capital. O que é que se pode pedir mais?