Dislexia política
Manda a prudência que se não extraiam ilações precipitadas do que à primeira se pode ser levado a concluir. O rigor conclusivo de fenómenos, políticos ou não, é sempre mais exigente e menos linear do que neles é dado observar.
Rui Rio proclamou no conclave que uniu a nata do grande capital e dos seus representantes políticos e económicos de que só ali estava porque aquilo, onde havia desaguado, não era um congresso da direita. Se assim fosse, acrescentou lesto, ali não estaria porque o PSD não é de direita.
Espíritos mais abertos ou juízos de almas mais compreensíveis sempre predispostos a conclusões benévolas remeterão a questão para o foro psíquico. Na verdade, a confusão entre esquerda e direita é uma das três dezenas de expressões da sintomalogia disléxica. Em concreto, um problema com reflexos no plano da inteligência espacial, sem implicações na inteligência cognitiva. Sem a gravidade, em termos de consequências, de outras expressões. Tirando a maçada de ter de dar umas voltas a mais a uns quarteirões para se chegar ao destino desejado sempre se acaba por lá ir ter.
Como se pode ver teria sido isso que sucedeu a Rio. Trocando as mãos, virando para o lado contrário para onde havia feito sinal e, zás!, quando deu por isso estava onde julgaria não estar. E como Rio tratou de acrescentar já que ali estava, não sendo de direita, porque se de direita fosse ali não estaria, aproveitaria para unir as direitas! Confuso e para lá da dislexia? Arredada a imprudência de olhar os factos pelo que aparentam o que emerge é, no plano político, o que se sabe.
Rui Rio tem para o País um projecto antidemocrático e de perversão do regime que a Constituição consagra, projecto que rivaliza com os seus pares, originais ou sucedâneos, que enxamearam aquele espaço, sejam Passos Coelho, Francisco dos Santos ou André Ventura.