Agindo no dia-a-dia, nas empresas e nas ruas, porque a luta continua!

Rui Fernandes (Membro da Comissão Política)

As fortes co­me­mo­ra­ções po­pu­lares da Re­vo­lução de Abril, por entre os ata­ques pro­vo­ca­tó­rios di­rectos ou ve­lados que lhe foram mo­vidos, pros­se­guiram com as pu­jantes ac­ções do 1.º de Maio e do 8 de Maio no Porto.

Este é um tempo de luta

Vá­rias greves e pa­ra­li­sa­ções e di­ver­si­fi­cadas con­cen­tra­ções em sec­tores e em­presas, onde se in­sere a acção re­cente pro­mo­vida pela Frente Comum, alargam a acção rei­vin­di­ca­tiva em de­fesa de postos de tra­balho, por au­mentos sa­la­riais, contra a pre­ca­ri­e­dade, pelo re­forço dos ser­viços pú­blicos, entre ou­tros as­pectos. Se a si­tu­ação ac­tual põe em evi­dência que o ca­pital não perde uma opor­tu­ni­dade para agravar a ex­plo­ração re­cor­rendo a todos os me­ca­nismos, a todos os es­tra­ta­gemas, também mostra que este é um tempo de luta.

Ao mo­delo de baixos sa­lá­rios, re­formas e pen­sões, pre­ca­ri­zação das re­la­ções la­bo­rais, ma­nu­tenção de ele­vados ní­veis de de­sem­prego somou-se, a pre­texto da epi­demia, a apli­cação do lay-off com corte nos sa­lá­rios, ho­rá­rios de tra­balho já des­re­gu­lados foram for­çados sem cri­tério ou res­peito, ritmos de tra­balho in­ten­si­fi­cados e re­gres­saram as si­tu­a­ções de atraso no pa­ga­mento dos sa­lá­rios. Não fosse a luta e a mo­vi­men­tação co­lec­tiva dos tra­ba­lha­dores e a in­ter­venção do Par­tido e a si­tu­ação seria outra, com con­sequên­cias ainda mais ne­fastas.

É por isso que muito do que se ouviu e leu sobre Ode­mira é cho­cante. Fazer um ar de es­panto com a si­tu­ação, quando dados dis­po­ní­veis re­velam um cres­ci­mento, em cinco anos, de 30% de es­tran­geiros a viver no dis­trito de Beja é o cú­mulo da hi­po­crisia. Dis­tri­buir culpas por todo o lado, dei­xando quase que no es­que­ci­mento os pri­meiros res­pon­sá­veis – os que, sem es­crú­pulos, con­tratam tendo como única pre­o­cu­pação a má­xima ex­plo­ração – é uma aber­ração, maior ainda quando se sabe usu­fruírem de apoios do Es­tado.

O que veio com in­ten­si­dade a pú­blico em Ode­mira (e o que não falta são ode­miras por este Por­tugal e por essa União Eu­ro­peia fora) não é um pro­blema de imi­gração. É, antes de tudo, um pro­blema de ex­plo­ração obs­cena de tra­ba­lha­dores.

En­tre­tanto, as­siste-se a mi­lhões de di­vi­dendos dis­tri­buídos entre os do cos­tume e a di­nâ­micas vá­rias dos que estão já a sa­livar com a dita ba­zuca dos mi­lhões, e pa­rece que com êxito, pelo que consta na versão final desse pro­grama e que a de­no­mi­nada Ci­meira So­cial não con­se­guiu es­conder, por muita ma­qui­lhagem que nela ti­vessem co­lo­cado. Por muito que vendam ilu­sões, não há com­pa­ti­bi­li­dade entre os in­te­resses do grande ca­pital e os dos tra­ba­lha­dores. Na ver­dade, o que a União Eu­ro­peia pro­cura é levar ainda mais longe a pre­ca­ri­e­dade la­boral, a des­re­gu­lação dos ho­rá­rios de tra­balho, a pressão sobre os sa­lá­rios, as re­formas e as pen­sões, o de­sin­ves­ti­mento nos ser­viços pú­blicos e a sua pri­va­ti­zação, menos so­be­rania e mais sub­missão.

 

Re­forçar a acção do co­lec­tivo par­ti­dário

Neste con­texto, com re­for­çado em­penho, impõe-se a mo­bi­li­zação de todo o co­lec­tivo par­ti­dário para res­ponder às múl­ti­plas exi­gên­cias que estão co­lo­cadas, in­cluindo as cam­pa­nhas sem es­crú­pulos de men­tira sobre o Par­tido.

Exi­gên­cias na res­posta ao de­sen­vol­vi­mento do quadro po­lí­tico e à con­ti­nu­ação da di­na­mi­zação da luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções. Exi­gên­cias na pre­pa­ração e con­se­quente acção de es­cla­re­ci­mento e mo­bi­li­zação para o voto CDU na eleição para as au­tar­quias, afir­mando que essa é a ga­rantia mais só­lida que os tra­ba­lha­dores e as po­pu­la­ções têm ao seu dispor para avançar. Exi­gên­cias que se têm de com­pa­ginar com o re­forço da or­ga­ni­zação do Par­tido, ou seja, uma or­ga­ni­zação mais forte para de forma mais eficaz in­tervir, res­pon­sa­bi­li­zando mais ca­ma­radas e apro­vei­tando o amplo con­tacto em curso para trazer novos mi­li­tantes ao Par­tido e adoptar me­didas para ga­rantir a sua in­de­pen­dência fi­nan­ceira. Exi­gên­cias que também se co­locam à pre­pa­ração, di­vul­gação e con­cre­ti­zação da Festa do Avante!.

Hon­rando o pa­tri­mónio de 100 anos de luta e in­ter­venção, com con­fi­ança e de­ter­mi­nados pros­se­gui­remos.




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