Não governamentalizar as Forças Armadas
A reforma que o Governo pretende impor na Estrutura Superior das Forças Armadas (FA) aprofunda a governamentalização e passa ao lado de um vasto conjunto de problemas com que aquelas se confrontam», denuncia o PCP.
O Partido quer militares com direitos e autonomia da instituição
Em conferência de imprensa, Rui Fernandes, da Comissão Política do Comité Central começou mesmo por citar uma declaração do Partido, feita em 2008, acerca de alterações legislativas então promovidas pelo governo PSD com o apoio do PS, para sublinhar que se trata de um processo envolvendo o bloco central desde os anos 90, tendo como linhas centrais o reforço das competências do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas e a subalternização à NATO.
Em causa, explicou o dirigente comunista, estão iniciativas legislativas apresentadas, na Assembleia da República, pelo executivo liderado por António Costa (cujo debate ocorreu anteontem e de que falaremos no próximo número), visando uma alteração significativa na estrutura do comando superior das Forças Armadas», as quais, tal como antes, «não só não deram resposta a problemas que persistem há largos anos como também não melhoraram o resultado do produto operacional», uma vez que «mantêm intocáveis disfunções já apontadas entre o Ministério da Defesa Nacional e o Estado-Maior General das Forças Armadas».
Rui Fernandes questiona mesmo «de que terão os governos medo ao manterem e aprofundarem o afastamento dos «conselhos superiores dos ramos do processo de nomeação das chefias militares, inibindo mesmo os chefes dos ramos de nomearem toda a cadeia hierárquica respectiva». Para mais «considerando que, a partir do posto de coronel, todas as promoções são objecto de aprovação pelos ministros da Defesa Nacional e de homologação pelo Presidente da República (PR)».
Intervir
Apesar das fortes críticas, o PCP não deixou de intervir no processo «com as propostas de alteração que se nos afiguram mais justas e adequadas à situação actual», prosseguiu o membro da Comissão Política, detalhando que «em relação à Lei de Defesa Nacional, e em coerência com a competência do PR de declarar a guerra, propomos que o Comandante Supremo das Forças Armadas tenha a última palavra no emprego das Forças Armadas em missões contra agressões e ameaças transnacionais ou em operações militares no exterior do território nacional».
Pretensões comunistas são também a defesa dos direitos dos militares na efectividade de serviço, designadamente adequando «as regras gerais do exercício desses direitos ao quadro constitucional» e aproximando «a legislação portuguesa à da esmagadora maioria dos países da União Europeia no que respeita ao exercício dos direitos, liberdades e garantias dos militares». Não menos importante é o objectivo de «contribuir para a estabilidade e a autonomia das Forças Armadas, num quadro em que continua por fazer um amplo e aprofundado debate sobre o que queremos da nossa instituição militar».
«Em qualquer caso, estas alterações legislativas propostas pelo Governo passam ao lado de um vasto conjunto de problemas com que as Forças Armadas se confrontam há largos anos», insistiu Rui Fernandes, que depois de enunciar alguns não deixou de registar que não colhe «o argumento do Governo de que tal reforma visa pôr Portugal em linha com os outros países da NATO», já que o mesmo «nunca foi utilizado para transpor para Portugal direitos de cidadania e sociais, perfis de carreira e funcionais, critérios de certificação e equivalências de cursos tirados nas Forças Armadas com a vida civil, especialidades e acesso a postos e cargos, mesmo na carreira de oficiais, entre outros aspectos».