Cavaco a cores
Se há coisa de que não se pode acusar Marcelo Rebelo de Sousa é de falta de empenho em manter a sua proverbial popularidade. Fala de tudo, do dia da mãe a pastéis de nata, mediatiza tudo, de cortes de cabelo a testes covid, opina sobre tudo. Mas volta e meia também fala a sério, e segunda-feira foi um desses dias.
«As democracias ocidentais devem à NATO a paz que as envolve, a durabilidade dos seus sistemas políticos e a prosperidade dos seus modelos sócioeconómicos. Falar hoje da NATO é, por isso, reafirmá-la como pilar insubstituível da ordem liberal», defendeu o Presidente da República durante a cerimónia de apresentação do livro «70 anos de Portugal na Aliança Atlântica». «Vivemos um tempo de crise profunda: sanitária, económica e social, de muita incerteza, volatilidade e angústia até. Precisamos, por isso, de referenciais de estabilidade, previsibilidade e sucesso. A NATO carrega, nestes 72 anos de vida, todos esses atributos», afirmou o Presidente. E continuou: «tal como Portugal, também a NATO materializou com sucesso a estabilidade do elo transatlântico, pilar fundamental da política externa portuguesa, estruturante da relação política e securitária com a Europa e os Estados Unidos da América, alicerces da prosperidade económica, coesão social e vocação multilateral» do País.
Não estivesse escrito e disponível no sítio da internet da Presidência da República para quem queira ouvir e ver, e quase daria vontade de pedir que repetisse: a paz e a prosperidade? Referenciais de estabilidade, previsibilidade e sucesso? Coesão social e vocação multilateral? A NATO, a sério?! Mas sim, Marcelo conseguiu mesmo repetir os chavões sobre a NATO que toda a realidade desmente.
É dos tais momentos em que o Presidente da República diz mesmo o que pensa, que planos tem e para onde quer levar o País. É dos tais momentos que dão razão à caracterização que José Luís Ferreira, dirigente do PEV, fez de Marcelo durante a campanha eleitoral para o primeiro mandado: um Cavaco a cores. E é.