Unidades

João Frazão

Este sábado, vendo chegar milhares de trabalhadores à Alameda, em Lisboa, vindos uns dos Anjos e, outros, do Campo Pequeno; olhando o mar de bandeiras em que se transformou a Avenida Almirante Reis; ouvindo as reivindicações concretas de trabalhadores de tantas empresas e locais de trabalho; acompanhando as boas notícias que chegavam dizendo que, um pouco por todo o País, o ambiente era semelhante; vendo a energia, a combatividade, a alegria que passava nos rostos de quem ali estava, uma vez mais, dizendo presente nessa memorável jornada de luta do 1.º de Maio, dei por mim a pensar na importância que tiveram as acções do ano passado.

Em 2020, resistindo à pressão mediática comandada pelos centros de decisão do grande capital, os trabalhadores não faltaram à chamada. Enfrentaram o medo e a crítica social. Tomaram todas as medidas de segurança. Não deram os abraços que queriam, mas não baixaram os braços. Ficaram de pé, no sítio marcado, mas não ficaram parados. Fizeram, por todo o País, uma grande afirmação dos seus direitos, aspirações e reivindicações.

Novos e velhos. Dos sectores público e privado. Das mais diversas profissões.

E lembrei-me de quanto isso foi útil para os dias e meses que se seguiram, para fazer frente à avalanche que se abateu contra o emprego, os salários, os horários e os direitos.

A luta, tal como a ofensiva, tal como o trabalho, nunca pararam.

É por isso que ler numa publicação online do BE que «o 1º. de Maio desconfinou», como legenda de fotografias do pequeno grupo que integrou o desfile, ignorando a massa de homens de mulheres que corajosamente não desiste de lutar, não pode passar em claro. A única diferença na sua acção divisionista é que, em 2020, o BE fez coro com os que queriam pôr em causa o direito a lutar, e deixou-se ficar no sofá.

Em 2021, regressaram à atitude de grupo fechado entre si, de costas voltadas ao conjunto dos trabalhadores, substituindo a bandeira de todos os trabalhadores pela bandeira do seu partido.

Cada um faz as suas opções.

Para os tempos que vêm por aí, fica-nos a lição. Os trabalhadores sabem com quem podem contar. Em todos os momentos. Com a organização, a unidade e a luta. Com quem queria fazer a unidade.




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