Perna curta
Não há forma de a ignorar. A natural, e mais que justa, indignação pela fuga a impostos da venda das barragens pela EDP tem preenchido o espaço mediático. Pena que a indignação tenha perna curta. Ou nalguns casos, em agravo do que já por si seria credor de reparo crítico, ainda mais curta que a indignação esteja a memória. Esclareçamos onde se quer chegar, não vá o encriptado da escrita toldar o alcance pretendido. Porque de barragens falamos, e com elas de rios trazido por natureza à colação, regressemos à nascente do problema para se descortinar o que na foz deu à costa.
Bem pode PSD, e alguns outros, esbracejar de indignação perante impostos devidos sem, em algum momento, questionarem uma mais grave questão entretanto submersa – a da alienação de activos nacionais e estratégicos para o País que essa venda representa. Alienação que teria sido impedida se a proposta do PCP em 2020, que visava proibir a venda daquelas infraestruturas concessionadas pelo Estado à EDP, tivesse sido viabilizada. Para lá do que o País teria ganho em termos de soberania, poupava-se ainda esta carpideira social-democrata. Não será para levar a sério a contagiante indignação vinda daqueles que, em momentos diversos, arquitectaram o que tecnocraticamente se designa por «planeamento fiscal» – que em termos mais populares se poderia designar com todo o rigor de roubalheira fiscal –, em que repousa e se desenvolve a fuga de milhares de milhões de euros. Uma «arquitectura» que no vai-e-vem de criação de empresas veículos, moradas de fachada, transferências para paraísos fiscais e outras manigâncias, há muito por aqui campeia.
Perante a distração de alguns que parecem agora lavar consciências por via da restituição do que é devido ao Estado num processo que alguns olearam.