Polónia condena historiadores por investigação sobre Holocausto

Um tribunal de Varsóvia condenou dois historiadores, Barbara Engelking e Jan Grabowski, co-autores de uma investigação sobre o destino da população judaica em alguns distritos durante a ocupação nazi da Polónia, entre 1939 e 1945.

A investigação foi publicada no livro Night Without End: The Fate of Jews in Selected Counties of Occupied Poland (Noite Sem Fim: o destino dos judeus em determinados distritos da Polónia ocupada), que analisa a forma como uma parte da população polaca tratou os judeus.

A sentença do tribunal, proferida no dia 9 de Fevereiro, afirma que os «dois historiadores mancharam a memória de um autarca polaco» com uma investigação que revela actos de cumplicidade de polacos com nazis e que devem pedir desculpas à família. Condenados a pedir desculpas por «divulgarem informação incorrecta» e «atentarem contra o bom nome de um herói polaco», mas não a indemnizar a sua família, os historiadores anunciaram que vão recorrer da decisão.

O governo de direita da Polónia aprovou uma lei que criminaliza referências à cumplicidade de polacos no Holocausto nazi. Esta lei substituiu outra de 2018, que levantou forte contestação e foi retirada por consagrar penas de prisão.

Segundo investigadores e organizações, a actual legislação visa apagar o papel de alguns responsáveis polacos no Holocausto e desencorajar a investigação académica nos casos de colaboração. Para eles, numa ocupação brutal como a da Polónia durante a II Guerra Mundial, há uma enorme massa de resistentes aos nazis, mas os polacos não foram apenas vítimas, facto que a História não pode ignorar.

Objectivo é provocar
«um efeito dissuasor»

Num texto publicado no sítio web do Centro Polaco de Investigação do Holocausto, dependente da Academia Polaca das Ciências (que publicou o livro), Barbara Engelking defendeu que «o objectivo deste tipo de processos é pôr em causa a credibilidade e a competência dos acusados», assim como «provocar um efeito dissuasor, desencorajando outros investigadores a tentar conhecer e escrever a verdade sobre o Holocausto na Polónia». Para a investigadora, trata-se de «um grande perigo para a liberdade de expressão».

O Centro de Memória do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, e muitas outras organizações e investigadores condenaram já o veredicto contra Barbara Engelking, directora do Centro Polaco de Investigação do Holocausto, e Jan Grabowski, da Universidade de Otava, no Canadá.

Em Portugal, a URAP (União de Resistentes Antifascistas Portugueses), que denunciou o caso, ao mesmo tempo que condena a acusação dos historiadores Barbara Engelking e Jan Grabowski, defende que «a história do Holocausto – um dos maiores crimes da Humanidade, que dizimou seis milhões de seres humanos, nomeadamente judeus, comunistas, ciganos, homossexuais, deficientes – deve ser investigada e divulgada, para que nunca mais se repita».




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