O vaci-negócio
A negociata assegura lucros colossais às grandes farmacêuticas
A saga das vacinas COVID está a virar uma «bagunça» (Financial Times, 30.1.21). Em final de Janeiro, «apenas 2% da população adulta da UE recebeu as vacinas» (Guardian 28.1.21) e sucedem-se azedas trocas de acusações sobre responsabilidades. Mas extraordinários são mesmo os contratos entre governos das potências capitalistas e a grande indústria farmacêutica.
O New York Times publicou (28.1.21) um artigo com o título: «Governos assinam acordos secretos de vacinas: eis o que escondem», onde diz: «Os governos têm gasto milhares de milhões de dólares para ajudar as empresas farmacêuticas a desenvolver vacinas e estão a gastar milhares de milhões adicionais para comprar as doses. Mas os pormenores desses acordos permanecem em boa medida secretos». As transferências de fundos públicos são colossais: «A empresa de biotecnologia Moderna não apenas baseou a sua vacina em tecnologia desenvolvida por entidades públicas, como recebeu mil milhões de dólares em financiamentos estatais para desenvolver o fármaco. Em Agosto o governo fez uma encomenda inicial de vacinas no montante de 1,5 mil milhões de dólares. A empresa já disse que o projecto foi integralmente pago pelo Governo Federal. […] Mas apesar dos colossais investimentos do contribuinte, tipicamente as empresas farmacêuticas ficam detentoras da totalidade das patentes»! O artigo relata que os esforços de vários países para que essa «propriedade intelectual» seja levantada «permitindo a produção de vacinas por laboratórios genéricos» está «condenada ao fracasso pela oposição dos EUA e Europa [União Europeia], cujas farmacêuticas afirmam que as patentes, e os lucros que geram, são a seiva vital da inovação». Tese interesseira, contraditada pelo que o próprio artigo relata sobre a origem pública da tecnologia subjacente à vacina da Moderna.
O escândalo não acaba aqui: «Um dos elementos fundamentais dos contratos de vacinas – o preço por dose – é frequentemente censurado nas versões públicas dos contratos governamentais. As empresas consideram-no um segredo comercial. […] Ao insistirem que os preços sejam confidenciais, as farmacêuticas levam vantagem sobre os negociadores governamentais, que desconhecem os montantes que estão a ser pagos por outros países». Da mesma forma, «os tempos de entrega são considerados informação proprietária» e «nos Estados Unidos, as farmacêuticas estão protegidas de praticamente qualquer responsabilidade legal no caso das suas vacinas não funcionarem ou provocarem efeitos secundários sérios».
A ‘bagunça’ é também uma negociata que assegura lucros colossais às grandes farmacêuticas, independentemente da eficácia que as vacinas venham a revelar ou dos seus eventuais efeitos secundários. É no que dá a promiscuidade entre governos e grande capital. Veja-se Durão Barroso, que de Primeiro Ministro passou (pela porta da Cimeira das Lajes) para a Presidência do Conselho Europeu, a Goldman Sachs e agora também a Presidência da Aliança Global pelas Vacinas (GAVI) que o Jornal Económico (29.9.20) descreve como «uma parceria público-privada» de âmbito mundial onde também pontifica a Fundação de Bill Gates. Mas nestas «parcerias» o público paga e o privado lucra, seja qual for o resultado do serviço. É sempre assim quando manda o grande capital.