Denunciada na Colômbia cumplicidade governamental em crimes nos anos 80
Uma investigação jornalística revelou novos pormenores do genocídio político de que foram vítimas os militantes do partido União Patriótica (UP), na Colômbia, com a participação do governo de Virgílio Barco (1986-1990). A UP era uma formação política fundada em Maio de 1985 no âmbito do processo de paz entre o Estado colombiano, representado pelo governo de Belisario Betancur, e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército Popular (FARC-EP). Parar além de integrar guerrilheiros desmobilizados das FARC-EP, a UP integrava igualmente membros do Partido Comunista Colombiano.
O trabalho do jornalista Alberto Donadio, publicado originalmente no portal losdanieles.com, revela novos elementos sobre essa política de sistemático genocídio levada a cabo durante quase duas décadas, que foi responsável pelo assassinato de milhares de militantes da UP, bem como a implicação directa do governo de Barco.
De acordo com a investigação, o então presidente da Colômbia autorizou a eliminação progressiva dos guerrilheiros desmobilizados e de outros militantes organizados na UP, com a assessoria de um agente dos serviços secretos de Israel, conhecido por Rafi Eitan, e a posterior incorporação dos militares, tudo respaldado pelos poderes do Estado.
À medida que avançou o plano foram envolvidas outras figuras do governo e do sector privado, este encarregado de assumir parte importante dos custos para manter a operação fora da vista dos que podiam denunciar esta operação criminosa que, segundo diferentes fontes, custou a vida a cerca de seis mil colombianos.
O governo de Barco é considerado como um dos mais sangrentos da Colômbia. Segundo estatísticas do Centro Nacional da Memória, durante esse mandato foram assassinadas mais de 78 mil pessoas, explodiram 19 carros-bombas, atingiram o auge o narcotráfico e o para-militarismo e perderam a vida de forma violenta cerca de três mil integrantes da UP.
A perseguição e eliminação dos militantes da UP converteu-se em política de Estado e transcendeu a administração de Barco, um capítulo da história colombiana que parece repetir-se décadas depois, apesar do Acordo de Paz entre o Estado e as FARC-EP assinado em 2016.
À investigação jornalística revelada agora reagiu a UP reafirmando as denúncias feitas durante décadas pelo assassinato dos seus militantes e exigindo à Jurisdição Especial para a Paz que convoque os responsáveis envolvidos para responder perante a justiça.
A UP «ratifica as denúncias que durante décadas (…) apresentou em diversas instâncias nacionais e internacionais, assinalando a responsabilidade directa de altos funcionários do Estado e das suas Forças Armadas na decisão, planificação e execução sistemática do extermínio e genocídio contra a União Patriótica e outras forças da oposição social e política na Colômbia», assinala um comunicado.
Aquele partido político destaca as semelhanças do referido genocídio com a situação actual na Colômbia, onde se registam já centenas de assassinatos de desmobilizados das FARC-EP, líderes sociais e indígenas, defensores da paz e dos direitos humanos.
«O que está a acontecer hoje sob este governo com líderes sociais, ex-combatentes subscritores do Acordo de Paz, camponeses, indígenas e afrodescendentes é que continuam a ser executados com a mesma cumplicidade de altas esferas do Estado e os mesmos métodos. Exigimos a verdade completa», conclui o comunicado da UP.