França quer tropas europeias no Sahel
O governo da França anunciou que vai «muito provavelmente» reduzir os efectivos da sua força militar Barkhane, que intervém há quase uma década em vários países do Sahel contra grupos jihadistas.
No final de Dezembro e nos primeiros dias de Janeiro deste ano morreram, em duas operações militares, no Mali, mais cinco soldados franceses, vítimas de engenhos explosivos artesanais, em acções reivindicadas por bandos ligados à Al-Qaeda no Magrebe. Atinge assim meia centena o número de militares franceses tombados no Sahel desde 2013, no quadro das operações Serval e Barkhane.
A ministra francesa das Forças Armadas, Florence Parly, em entrevista recente a um jornal de Paris, confirmou a provável redução dos efectivos militares franceses no Sahel. Referiu-se a «êxitos importantes em 2020» alcançados pelas tropas expedicionárias gaulesas na luta anti-terrorista – a destruição de redes logísticas jihadistas e a liquidação de vários dos seus chefes. Acusou os inimigos de utilizarem «métodos perniciosos», como a utilização de minas que provocam vítimas também entre os civis.
A operação Barkhane, que dispõe de aviões, drones, blindados e outro equipamento moderno, conta actualmente com 5100 efectivos, tendo sido reforçada há um ano com 600 soldados. Tem o seu quartel-general no Chade e actua sobretudo no Mali mas também no Níger, Burkina Faso e Mauritânia – a aliança que constitui o G5 Sahel.
A questão da eventual redução da Barkhane deverá ser debatida numa reunião cimeira prevista para Fevereiro, em Djamena, entre a França e aqueles cinco países africanos, todos eles antigas colónias francesas e que mantêm laços políticos, económicos e militares «privilegiados» – de dependência – com Paris. Segundo a imprensa francesa, o presidente Emmanuel Macron pretende que as tropas francesas, ou parte delas, sejam substituídas por um contingente militar europeu, argumentando que o avanço do «islamismo radical» no Norte de África teria repercussões graves na Europa.
A União Europeia, aliás, já participa nesta longa guerra, com centenas de especialistas militares enviados para treinar os exércitos africanos sahelianos. Também a intervenção dos Estados Unidos, através do Africom, o seu comando para o continente africano, tem sido decisiva com o apoio dispensado à Barkhane nos sectores das informações e do abastecimento.
A par destas forças, está estacionada no Mali a Minusma (Missão Multidimesional Integrada de Estabilização, das Nações Unidas), formada por 14 mil efectivos, que, por mandato, não podem entrar em combate a não ser para defender-se.
Face a esta situação, cada vez mais complicada para as tropas francesas no terreno, têm surgido vozes – incluindo as do governo de transição do Mali, chegado ao poder depois de um golpe militar, em Agosto do ano passado – a defender negociações com os grupos armados.
Paris, através da ministra Florence Parly, garante excluir quaisquer conversações «com bandos terroristas como a Al-Qaeda ou o “Estado Islâmico”, que assassinam de maneira cega e têm as mãos sujas de sangue». Insiste que «com terroristas não se negoceia», mas deixa a porta aberta para «pessoas que baixaram as armas e que não são motivadas por uma ideologia radical e criminosa».