Fechar a refinaria de Matosinhos é destruir um activo estratégico
GALP O PCP contesta o encerramento da refinaria em Matosinhos, pede explicações ao Governo, exige que este trave a decisão e apela à mobilização dos trabalhadores contra a destruição de um activo estratégico nacional.
O PCP já pediu a audição urgente do Ministro do Ambiente
Reagindo à informação enviada, anteontem, pela GALP à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, o Partido considera que se trata de «uma decisão particularmente grave, com consequências no plano da soberania energética, do tecido industrial, do equilíbrio territorial, do desenvolvimento económico e do emprego».
Em nota divulgada pelo gabinete de imprensa, o PCP contesta os pretextos invocados para o fecho da refinaria em Leça da Palmeira, «a chamada descarbonização » e os impactos da pandemia, frisando que estes, «a serem considerados em toda a sua extensão, levariam ao encerramento de parte significativa das empresas industriais».
«Para o PCP, o País não pode aceitar que se concretize uma política de desactivação de importantes activos industriais no valor de muitos milhões de euros, tendo inclusivamente beneficiado de investimentos recentes com recurso a apoios públicos (como foi o caso); que atira para o desemprego centenas de trabalhadores industriais qualificados; que reduz a capacidade exportadora nacional de refinados, uma das mais importantes componentes da balança de mercadorias; que pode fragilizar gravemente a autonomia refinadora nacional, reduzindo-a ao pólo de Sines e desarticulando o importante cluster industrial (Refinaria, Fábrica de Aromáticos [em Matosinhos] e Complexo Químico de Estarreja [várias empresas])», acrescenta-se no texto.
O Partido sublinha, também, que «as declarações do Governo, por via do Ministro do Ambiente, congratulando-se com o encerramento desta refinaria e reafirmando os argumentos da GALP, revelam uma total submissão às imposições da União Europeia e da sua agenda de favorecimento das grandes potências, que estão a impor a países como Portugal processos e ritmos de liquidação de infra-estruturas estratégicas». Relembra, a propósito, «o anúncio já feito da antecipação do encerramento da central termoelétrica de Sines».
Volumosos interesses
De resto, em comunicado igualmente divulgado dia 21, a Direcção da Organização Regional do Porto (DORP) do PCP recorda que, «em entrevista a um órgão de comunicação social, publicada no dia 12, o Ministro do Ambiente fez uma afirmação premonitória», antecipando não apenas o encerramento da fábrica da Petrogal em Leça da Palmeira mas admitindo que «sim, alguns postos de trabalho vão ser perdidos aqui».
A DORP do PCP assinalou, por isso, a «coincidência entre a declaração do Ministro [dia 12] e a decisão da empresa».
«Este encerramento não está desligado nem de conhecidos interesses especulativos sobre os terrenos onde a refinaria se localiza, nem dos volumosos recursos públicos que estão a ser transferidos para os grupos económicos, em nome da chamada transição energética», realça, por outro lado, o PCP, para quem, «mais do que passos em frente na resposta às preocupações ambientais, o que o País está a dar são passos atrás na defesa da sua soberania e desenvolvimento sustentável».
O Partido concluiu apelando «à unidade e luta dos trabalhadores da GALP» e garante que «intervirá no sentido de impedir uma decisão contrária aos interesses nacionais». Desde logo pedindo esclarecimentos à tutela, os quais «decorrem não apenas do facto do Estado Português continuar a ter, ainda que de forma minoritária, uma presença no capital da GALP, mas, sobretudo, por ser uma empresa estratégica para o País, cuja gestão tem de estar vinculada aos interesses nacionais» e não à «maximização do lucro dos seus accionistas, como acontece nesta e noutras empresas privatizadas».
Ao final da tarde de segunda-feira, num vídeo divulgado nas redes sociais do PCP, o deputado na Assembleia da República, Duarte Alves, confirmava que o Grupo Parlamentar comunista «já entregou um requerimento para uma audição urgente ao Ministro do Ambiente».
Trabalhadores contestam
Quem também reagiu ao encerramento da refinaria da Galp em Matosinhos foi a Comissão de Trabalhadores. Em declarações à Lusa, Hélder Guerreiro assegurou que «a nossa intenção é contrariar» e lembrou que a CT advertiu para «as consequências que a distribuição de dividendos iria ter num contexto de pandemia», sem, contudo, ter obtido qualquer resposta do Governo ou do Presidente da República.
Hélder Guerreiro salientou, igualmente, que estão em causa 500 postos de trabalho directos e cerca de um milhar indirectos e recordou que as contas da empresa, referentes ao terceiro trimestre, mostram que todas as áreas totalizaram resultados positivos.