Recordar o assassinato de Dias Coelho como homenagem, alerta e denúncia

EVOCAÇÃO O PCP homenageou José Dias Coelho, lembrando «as várias dimensões da sua vida e a sua dedicação total ao combate pelo derrube do fascismo, pela democracia e pelo socialismo».

Este exemplo é para sempre «património da nossa luta colectiva»

«O homem de cultura, o artista e militante revolucionário, o funcionário do Partido Comunista Português, clandestino», foi recordado em Alcântara, na rua de Lisboa que hoje tem o nome de José Dias Coelho, no dia 19, data em que se completaram 59 anos desde o dia em que a PIDE o assassinou.

Ao intervir na sessão que teve lugar no átrio da Biblioteca de Alcântara, Jerónimo de Sousa começou por saudar a presença de Emília Dias Coelho, irmã de José Dias Coelho e autora de uma colecção de aguarelas expostas naquele equipamento municipal desde a sua recente abertura, a 5 de Outubro, depois da reabilitação integral do palacete.

«Recordar José Dias Coelho, além de ser uma merecida homenagem, é, nestes tempos que correm, um vivo alerta e uma vigorosa denúncia daqueles que tudo hoje fazem para apagar da memória do povo os horrores da ditadura fascista e daqueles que, reconstruindo a história, a querem branquear», afirmou o Secretário-geral do Partido.

Esta homenagem, assinalou, «assume um particular significado, quando o PCP comemora 100 anos de existência e luta». «Jamais esquecemos os nossos lutadores, os nossos heróis e os nossos mártires», cujos exemplos «nos dão ânimo, força e coragem para prosseguirmos os combates do presente e do futuro».

Jerónimo de Sousa realçou que «a liberdade conquistada em Abril de 1974 e tudo o que dessa gloriosa Revolução brotou de afirmação de emancipação social e política foi o resultado de décadas de luta abnegada, corajosa e perseverante de homens como José Dias Coelho, travada nas condições mais adversas, enfrentando perigos imensos, enfrentando a mais feroz repressão, perseguições, prisão e assassinatos».

Na intervenção do Secretário-geral foi apresentada uma nota biográfica de José Dias Coelho, nascido em Pinhel, em 19 de Junho de 1923, e que, acompanhando o pai e a família, viveu em Lisboa a partir de 1938. Dos marcos na época e na vida do homenageado, Jerónimo de Sousa referiu «o pesadelo do avanço do fascismo» no Mundo e na Península Ibérica, a 2.ª Guerra Mundial, os estudos no Colégio Académico e na Escola de Belas Artes de Lisboa e a adesão à Federação das Juventudes Comunistas, a coincidir com a reorganização do PCP no início dos anos 1940.

Num «tempo de grandes lutas e de uma grande dinâmica do movimento de oposição à ditadura», Dias Coelho participa no Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF) e no Movimento de Unidade Democrática (MUD), na sua Comissão de Escritores e Artistas Democráticos.

«Foi o trabalho realizado neste âmbito, no qual Dias Coelho se empenhou, com a sua perspicácia política e sua capacidade para desenvolver amplos consensos, que permitiu renovar a direcção da Sociedade Nacional de Belas Artes» e abrir caminho à organização das Exposições Gerais das Artes Plásticas, «espaço de confluência de artistas de várias correntes e sensibilidades, liberto das pressões de carácter político ou estético», desde 1946 e durante dez anos.

A actividade de José Dias Coelho «desdobra-se entre o trabalho artístico, a actividade e intervenção política e social». Foi preso pela PIDE e mantido incomunicável durante 10 dias, no Aljube, como apoiante e organizador da campanha do general Norton de Matos nas eleições presidenciais de 1949.

Vida de revolucionário

No Outono de 1955 «mergulhou na luta clandestina contra o regime que oprimia o seu povo, como funcionário do Partido Comunista Português», uma decisão que «revela a nobreza e a firmeza das suas convicções». Dias Coelho aceitou «trocar a perspectiva de uma vida artística promissora e a consideração de uma vida cheia de relações sociais pela modesta, mas essencial tarefa de pôr de pé uma oficina de falsificação de documentos, destinados à defesa dos camaradas clandestinos», sublinhou o Secretário-geral.

«Muitas outras tarefas tomará nas suas mãos, no virar da década de sessenta», a qual Dias Coelho «inicia com a sua integração na direcção do Partido em Lisboa, com a responsabilidade do sector intelectual».

Nos anos de 1960 e 1961, «o PCP, a força impulsionadora de resistência ao fascismo, sofria mais uma vez as consequências da vaga repressiva» e «José Dias Coelho caiu para sempre, tecendo armas neste combate desigual pela liberdade do seu povo, pela democracia, pelos ideais do socialismo».

A 19 de Dezembro de 1961, «a vida de um revolucionário chegou ao fim, mas não a luta que ele honrou com o seu exemplo de firmeza serena, de convicções e de carácter que nós, com orgulho, queremos guardar para sempre como património da nossa luta colectiva por um Portugal mais livre, mais justo e mais solidário».

Poesia, música e cravos vermelhos

A homenagem, no final da manhã de sábado, reuniu várias dezenas de pessoas e iniciou-se com a declamação de poemas de Mário Castrim, José Afonso, Ary dos Santos e Domingos Lobo, pelos Jograis «Dois de Palavras». Canções de José Afonso e Lluís Llach soaram na voz de Sofia Lisboa e na viola de Rui Galveias. Para ambos os momentos foram escolhidas obras sobre o assassinato de José Dias Coelho e a resistência.

Ricardo Costa, da Comissão Política do Comité Central, Inês Zuber, do CC, e Ricardo Marques, da Direcção da Organização Regional de Lisboa do Partido, acompanharam o Secretário-geral do PCP, na sua intervenção.

Correspondendo ao apelo de Jerónimo de Sousa, os participantes na homenagem reuniram-se depois na rua e, empunhando bandeiras do Partido e gritando «fascismo nunca mais», desceram até junto do número 30, para depositar uma coroa de cravos vermelhos junto à placa que assinala o local do crime perpetrado há 59 anos pelo regime fascista e onde está inscrita uma frase de José Dias Coelho: «De todas as sementes confiadas à terra é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas».



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