Gangsters e patriotas

Filipe Diniz

Se Clau­sewitz tes­te­mu­nhasse os crimes co­me­tidos ou in­cen­ti­vados pelo gang im­pe­ri­a­lista/​si­o­nista, com­ple­men­taria a sua cé­lebre for­mu­lação com uma outra: «O as­sas­sínio é a con­ti­nu­ação da po­lí­tica por ou­tros meios.»

Com o re­cente as­sas­sínio de Mohsen Fakh­ri­zadeh são seis os ci­en­tistas nu­cle­ares ira­ni­anos alvo desde 2010: cinco mor­reram. Nem os EUA nem Is­rael se acu­saram. Mas é sig­ni­fi­ca­tivo que desta vez seja nos pró­prios EUA que se aponte à ad­mi­nis­tração Trump e ao seu aliado si­o­nista. Ao con­trário do que es­pe­ra­riam os au­tores da pro­vo­cação, o go­verno ira­niano não se lançou em qual­quer acção de re­ta­li­ação do mesmo ca­libre. Apelou antes à con­de­nação in­ter­na­ci­onal deste crime, no­me­a­da­mente por parte da UE. Pode ser que tenha muito que es­perar.

Ou­tras coisas podem vir a pro­pó­sito. Uma que me­rece ser me­lhor co­nhe­cida diz res­peito ao ac­ti­vista ira­niano, Farhad Mey­sami, preso desde 2018. Com o cí­nico opor­tu­nismo ha­bi­tual, a ad­mi­nis­tração dos EUA re­solveu exigir a sua li­ber­tação. Eis al­guns tre­chos da no­tável res­posta que este pu­blicou: «pre­fe­riria passar toda a vida apri­si­o­nado por um grupo dos meus opres­sivos e ig­no­rantes com­pa­tri­otas […] do que passar um se­gundo sub­me­tido à ver­gonha e à des­graça de ser apoiado por aqueles que não cum­priram as suas obri­ga­ções e se re­ti­raram do ra­ci­onal e pa­cí­fico Acordo Nu­clear Ira­niano, […] e vol­taram a impor san­ções que lan­çaram na po­breza mi­lhões dos meus ir­mãos ira­ni­anos […]. Talvez fosse mais apro­priado que fos­semos nós, a nação ira­niana, a de­sejar a “li­ber­dade” e a “li­ber­tação” da grande nação dos EUA. […] e gos­taria de pedir a gente como Do­nald Trump, Mike Pompeo e John Bolton que guardem para si as suas lá­grimas de cro­co­dilo».

Sejam quais forem as ra­zões por que está preso, Farhad Mey­sami é um pa­triota, e me­rece todo o res­peito.




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