Se até o FMI reconhece…
Relatório do Departamento de Investigação do FMI (https://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2016/06/ostry.htm): «A agenda neoliberal assenta em dois pilares principais. Um é o acréscimo da competitividade – conseguido através da desregulação e abertura dos mercados domésticos, incluindo os mercados financeiros, à competição estrangeira. O segundo é um menor papel do Estado, conseguido através de privatização e de limitação da possibilidade de os governos assumirem défices fiscais e acumularem dívida. […] Embora as vantagens em termos de crescimento sejam incertas, os custos em termos de acrescida volatilidade económica e da frequência de crises parecem mais evidentes. […] Uma consolidação de 1% do PIB aumenta a taxa de desemprego de longa duração em 0,6% e em 1,5%» o nível de desigualdade (medido pelo índice de Gini).
O que diz é sabido, o interesse está em de onde vem. E a questão que se coloca é saber se o FMI e outros arautos da «agenda neoliberal» o tomam em conta.
Bastará olhar para cá dentro para se saber que não, e o mesmo se passa em todo o lado. Ouça-se a insuspeita Oxfam: «76 dos 91 empréstimos FMI negociados com 81 países desde Março de 2020 pressionam no sentido do apertar do cinto, que poderia resultar em cortes profundos nos sistemas públicos de saúde e de pensões, congelamento de salários e redução no número de trabalhadores do sector público tais como médicos, enfermeiros e professores, e nos apoios aos desempregados, tal como o subsídio de doença.»
Se até responsáveis seus apontam o carácter e as repercussões negativas de tal «agenda», porque é que o FMI (e as outras troikas) insiste na imposição dos seus dogmas?
Acontece que a aceleração extrema de todas as desigualdades e a concentração de cada vez mais riqueza em cada vez menos mãos não é um problema do neoliberalismo: é a própria razão de ser do capitalismo.