Dino D’Santiago apresenta-se a solo pela primeira vez na Festa do Avante!

CRIAR «Sempre senti que a Cultura é um filho bastardo do nosso País», afirmou ao Avante! Dino D’Santiago, que se afirma um «verdadeiro fruto deste Mundo Global» e que nos revela que a Festa do Avante!, onde se apresentará pela primeira vez a solo, já «faz parte» do seu ADN.

«A Festa do Avante! já faz parte do meu ADN»


Estreaste ainda este ano o teu segundo álbum – o «Kriola». De que fala e que temas aborda este teu novo trabalho?

No dia 3 de Abril, assim surge de surpresa esta «Kriola», em pleno confinamento e escolhi essa data, pois é o dia em que o meu pai celebra o seu aniversário, este ano foi impossível por conta da circunstância que o País atravessava. Kriola é um álbum que representa tudo o que a cultura de mistura e aculturação nos oferece. Viaja entre Lisboa, Santiago, Londres, Berlim e Lagos (Nigéria). Onde o tradicional encontra-se com o contemporâneo e os sons da electrónica global. As mensagens revelam o meu lado mais activista, pois escrevi as canções numa altura em que pandemias como a iniquidade, racismo, situação catastrófica dos refugiados de guerra, enfim, informação e sentimentos que não poderia deixar passar, por mais que tente passar as mensagens de uma forma elevada e procurando sempre abordar os temas com o pólo positivo!

 

O «Kriola» foi criticamente aclamado nacional e internacionalmente. Este reconhecimento o que significa para ti e para a tua música?

Talvez por ter respeitado o estado de emergência decretado pelo nosso Governo, tive oportunidade de exercitar e muito o espírito de gratidão profunda. Absorvi cada segundo de amor que chegava literalmente dos quatro cantos do Mundo. Desde a Rússia, China ou Indonésia, até Argentina, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné e Moçambique. As mensagens chegavam a todos os instantes, vídeos ou fotos onde me identificavam, com uma das frases que tornaram-se verdadeiros slogans como o exemplo de «branko ku Prétu, um Gerason di Oru»! Em termos da crítica, a generosidade de cada entrevistador, que tinham realmente escutado cada canção, com questões muito pertinentes, deu-me um prazer especial sentir cada momento. Rolling Stone (USA), Folha de São Paulo (BR), Complex (UK), RFI Musique (FR) e os exclusivos para O Público, Expresso e Rimas & Batidas em Portugal, foram algumas das bênçãos.

 

És natural da Quarteira, Faro, mas já viveste noutras cidades do País. Estes locais por onde passaste deixaram-te alguma marca ou aprendizagem? Têm reflexo no teu trabalho? A tua música mistura influências, culturas e estilos diferentes. De onde vem isto?

Eu sou um verdadeiro fruto deste Mundo Global, filho de pais Cabo-verdianos, nascido em Quarteira, vivi 11 anos no Porto e estou em Lisboa há cinco anos, sempre com viagens constantes a Santiago (CV) e Londres. Tudo isso fez com que absorvesse sempre um pouco de cada canto onde estive. Misturando todas as claves, transformando-se na minha Cachupa instrumental. Quanto mais viajo, mais me apercebo que Lisboa é o nosso epicentro, por reunir o mundo sonoro que busco, concentrado em 100,05 km².

 

A situação vivida pelo País nos últimos meses tem sido uma experiência particular para muitos portugueses. De que forma este período afectou o teu processo criativo?

Antes deste cenário «dantesco» ter acontecido, eu já rezava para mim próprio, que precisava de abrandar, pois o «Mundu Nôbu» fez com que viajasse muito e desde Outubro de 2018 que não consegui parar. Entre concertos e edição do Mundu Nôbu Remixes, Sotavento (EP) e a gravação do Kriola, parece que o globo ser obrigado a parar, fez com que eu fosse obrigado a parar, pois não sei se saberia meter um pause. Sou viciado em criar, por ter esse vício, voltei a pintar e ilustrar, escrevi algumas canções, vi muitos documentários, namorei muito e sinto-me revitalizado e pronto para a estrada!

 

A precariedade grassa no sector cultural como a epidemia veio comprovar. Que pensas acerca disto?

Sempre senti que a Cultura é um filho bastardo do nosso País, a quem se oferece um presente no aniversário, Natal e Páscoa, e é tudo. Quando os nossos governos pararem para perceber a grande realidade que é a Cultura para um país, que a Arte ainda é o único elemento que nos permite sonhar e acreditar num futuro melhor, que durante o confinamento nos tirou de casa e nos permitiu sentir esperança, mesmo estando presos entre quatro paredes; quando todos tivermos essa consciência, que o artista não é a personificação da nobreza de um bombeiro que apaga os nossos fogos e nem um bobo que alimenta as graças de uma corte! «Um país sem Cultura é um país sem memória».

 

A Festa do Avante! afirma-se no panorama cultural nacional com produção artística de qualidade há 43 anos. Achas que a Festa poderá ser um exemplo no processo de retoma da actividade cultural no País?

A Festa do Avante já faz parte do meu ADN, já pisei o palco principal como membro dos Expensive Soul e dos Nu Soul Family. Finalmente acontecerá pela primeira vez em nome próprio, trazendo Portugal no nome próprio e Cabo Verde no apelido. Fica o meu desejo para que tudo seja feito de forma segura para que todas as portas, de todos os festivais e salas de espectáculos possam finalmente deixar para trás o eco do vazio.

 

Que poderão esperar as pessoas que assistirem à tua actuação na Festa do Avante!?

NU TA MISTURA NÔS TUDU EH KRIOLU! BRANKU KU PRÈTU, UM GERASON DI ORU!




Mais artigos de: Festa do Avante!

Uma Festa que se adapta e reinventa ano após ano

ADAPTAÇÃO Os dias 4, 5 e 6 de Setembro, data em que ocorrerá a edição de 2020 da Festa do Avante!, estão cada vez mais próximos. Com o espaço alargado este ano a 30 hectares – para melhor assegurar as necessárias condições de protecção -, a Festa volta a ser erguida com todo o empenho e dedicação militante. Não faltarão as expressões culturais e políticas que lhe são tão características, nem as novidades que a reinventam ano após ano.

Palco Paz estreia-se na Festa com diversidade musical

VARIEDADE Com, aproximadamente, 21 horas de programação preenchidas com música e espectáculos de qualidade, o Palco Paz, constituir-se-á como um importante pólo de atracção da 44.ª edição da Festa do Avante!.

Com o Ensemble Manuel Jorge Veloso e a música que merece e deve ser ouvida

DESAFIO É um sexteto de jazz. Além da paixão pela sua música, têm em comum a admiração por uma figura pioneira e com um papel destacado na divulgação desta expressão musical no nosso País. Foram buscar-lhe o nome, em sua homenagem. Falamos do Ensemble Manuel Jorge Veloso. Tocarão na Festa e dizem-se cientes de que esta...

Festa do Livro – uma visita obrigatória

Neste ano cheio de particularidades, também na Festa do Livro se verão as medidas para garantir a segurança de todos os participantes e visitantes, procurando promover o distanciamento e a higienização dos espaços, sendo o seu funcionamento num espaço aberto e a existência de um único circuito a percorrer pelos...

Ir e voltar

Quem se quiser deslocar para a Festa do «Avante!» de transportes públicos, tem disponíveis para levantamento nos centros de trabalho do PCP bilhetes ida e volta para os autocarros da sulfertagus que fazem a ligação entre a estação de comboios de Foros da Amora e a Quinta da Medideira. Os...