O prémio

Gustavo Carneiro

Um pouco por todo o mundo cresce o clamor para que o Prémio Nobel da Paz seja atribuído aos profissionais de saúde cubanos que integram o Contingente Internacional Henry Reeve. Se este facto tem algum significado não é tanto pelo galardão em si, ao qual restará pouca credibilidade, mas pelo que representa de reconhecimento crescente pela acção internacionalista de Cuba na área da saúde, cuja dimensão e importância a pandemia de COVID-19 tornou ainda mais notória.

Por mais que justificassem plenamente toda a espécie de prémios e reconhecimentos, não estão em causa os milhares de médicos cubanos que prestam cuidados regulares às populações de dezenas de países, integrando e qualificando os respectivos sistemas de saúde, nem a formação superior em Medicina que Cuba garante a estudantes estrangeiros. O que hoje suscita admiração generalizada é a acção do contingente especializado na prestação e auxílio clínico e humanitário em situações de calamidade natural ou sanitária, criado em 2005 pelo Comandante Fidel Castro para atender à devastação provocada pela passagem do furacão Katrina pelos Estados Unidos.

Apesar de George W. Bush ter recusado o apoio cubano, prejudicando assim as populações do seu país, o contingente tem marcada na sua própria designação esta que seria a sua primeira missão: Henry Reeve foi um jovem militar norte-americano que se juntou à luta pela independência de Cuba do domínio espanhol e por ela deu a vida, sendo executado em 1876, com 36 anos. É este exemplo de internacionalismo que Cuba homenageia – e replica.

Desde a sua criação, cerca de três dezenas de brigadas, envolvendo para cima de 8000 profissionais de saúde, estiveram em mais de 20 países, enfrentando 16 inundações, oito furacões e outros tantos terramotos, e ainda quatro epidemias. O testemunho do médico Leonardo Fernández, de 68 anos, que depois de combater o ébola na África Ocidental rumou a Itália no pico da COVID-19, revela a grandeza moral dos que as integram: «Estamos com medo, mas temos uma missão revolucionária a cumprir e aí pomos o medo de lado (…).»

O mais certo é que os internacionalistas cubanos não vençam o Nobel.

Provavelmente, nem sequer o desejam, ou não tivesse sido já atribuído a Obama antes mesmo de tomar posse como presidente dos EUA (e de, uma vez no cargo, bombardear vários países), à União Europeia braço europeu da NATO, ao carniceiro Kissinger ou a responsáveis pelo apartheid sul-africano e pela ocupação sionista da Palestina… Chega-lhes seguramente a gratidão dos povos.

E haverá melhor prémio?




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