Agri… quê?
O desmantelamento do Ministério da Agricultura não se dá para responder à lamentável situação que vitimou dezenas de cães num «abrigo» ilegal em Santo Tirso, não obstante as vozes de indignação a propósito da anunciada intenção de passar a responsabilidade do bem-estar animal para o Ministério do Ambiente, para acalmar a ira de sectores radicalizados, mesmo sabendo que o criminoso golpe contra a produção nacional que agora se prepara se insere na estratégia dos que, procurando dar um passo de cada vez, querem limitar a produção pecuária no país, num brutal ataque ao mundo rural e às suas formas de vida.
É anterior à óbvia desvalorização da produção agrícola e pecuária quando o Governo decidiu criar um gabinete de crise para enfrentar as consequências da epidemia, deixando a titular desta pasta de fora, como se a alimentação humana fosse preocupação de segunda numa situação de emergência.
Não começou sequer quando, ao arrepio da realidade agro-florestal portuguesa, a estrutura do Governo separou a agricultura das florestas, submetendo esta área ao Ministério do Ambiente, criando novas dificuldades aos produtores florestais.
O desmantelamento do Ministério da Agricultura começou há décadas, com o encerramento dos serviços de extensão rural, ou com a redução de milhares de funcionários, ao serviço de uma lógica – que une PS, PSD e CDS – de destruição da pequena e média agricultura, da concentração da propriedade e da produção e da cedência aos interesses dos países grandes produtores do centro e do norte da UE, a mando da PAC.
Este episódio, com consequências que são difíceis de prever, não apenas para o produtores pecuários, mas mesmo para a saúde pública, que os serviços da DGAV têm garantido com os poucos meios de que dispõem, é só mais um de uma novela que vai longa. E que interessa sempre aos mesmos.
Ao grande agro-negócio que, do Ministério da Agricultura, nada mais espera que chorudos cheques, como qualquer bom defensor da teoria do menos Estado compreenderá.