Por uma vida melhor e uma sociedade mais justa

Francisco Lopes (Membro do Secretariado)

O capitalismo cria e aproveita as mais diversas situações para agravar a exploração. É da sua natureza e confirma-se no quadro da epidemia de COVID-19.

“A situação exige a utilização plena dos direitos sindicais e políticos”

Milhares de trabalhadores são despedidos, um grande número tem o salário cortado, os horários de trabalho forçados, a precariedade promovida, as condições de saúde e segurança no trabalho desrespeitadas; muitos micro pequenos e médios empresários vêem a sua actividade atingida ou extinta sem o apoio necessário; rios de dinheiro público são entregues a grupos económicos e financeiros e a multinacionais que acumularam milhares de milhões de euros de lucro: mas, tudo isto, que resulta de opções na resposta à epidemia para favorecer o grande capital, é remetido para a responsabilidade do vírus.

Ao mesmo tempo que é escamoteada a apropriação pelo capital de vastos recursos públicos e da riqueza criada pelos trabalhadores, é veiculada a ideia que, perante a situação, são necessários sacrifícios para os trabalhadores, apontando a perspectiva de anos de agravamento da exploração e empobrecimento.

Mistificam-se decisões recentes relativas a fundos europeus. Procuram confundir verbas inscritas – condicionadas a critérios de utilização impostos pela UE que servem as multinacionais e as grandes potências, objecto de limitações burocráticas que podem impedir a sua utilização, sujeitas a decisões discricionárias de suspensão ou anulação, a serem pagas duplamente (pelos prejuízos para Portugal do mercado único e da moeda única e pelos mecanismos directos ou indirectos de amortização futura) – com fundos disponíveis para decidir pelas instituições nacionais ao serviço dos trabalhadores e do povo e do desenvolvimento do País.

As necessárias medidas de prevenção e protecção são enquadradas com uma campanha intensa para espalhar o pânico visando o isolamento social e a limitação dos direitos sindicais e políticos.

A situação é grave para os trabalhadores e para o País. O caminho não é o das opções do Governo PS, da convergência do PS e PSD com o patrocínio do Presidente da República, não é o do regresso ao passado das opções reaccionárias e revanchistas do PSD, CDS e dos seus sucedâneos e aparentados do Iniciativa Liberal e do Chega. Portugal precisa do caminho que Abril abriu e a Constituição da República consagra e que é preciso levar à prática. Portugal precisa da política patriótica e de esquerda, da convergência e da luta para a tornar possível e do reforço do PCP.

Na situação que vivemos é necessário aprofundar a percepção sobre o quadro essencial que se apresenta, enfrentar a ofensiva e tomar a iniciativa.

Face à epidemia, a um vírus que pode continuar muito tempo, como acontece com outros, não sendo possível saber quando haverá vacina ou tratamento eficaz, é necessária uma estratégia que passa pelo reforço do SNS, pela adopção de medidas de protecção e mitigação sanitárias, pela pedagogia da necessidade da prevenção e protecção e passa por aquilo que é cada vez mais importante: pela dinamização da actividade económica, social, cultural, desportiva, de lazer e convívio, pela fruição da vida, hoje essencial à saúde e ao bem-estar da população.

A situação exige a utilização plena dos direitos sindicais e políticos, a valorização do trabalho e dos trabalhadores, dos salários e direitos, dos serviços públicos, a dinamização da luta que abre o caminho de confiança no futuro, não apenas para retomar a vida normal, mas com o horizonte de uma vida melhor e uma sociedade mais justa.




Mais artigos de: Opinião

O PCP sobressaiu

Pelo balanço da actividade parlamentar feito pela própria Assembleia da República e recentemente divulgado, ficámos a saber que o PCP foi o partido com mais projetos apresentados (140) e aprovados (14) na 1.ª sessão legislativa da XIV Legislatura (entre Outubro de 2019 e Julho de 2020). Mas dizer isto ainda é pouco....

Artistas

«O assassinato do actor Bruno Candé é uma tragédia mas nada tem, segundo os dados conhecidos até ao momento, a ver com racismo». A afirmação consta numa nota do Chega, que deplora o alegado «aproveitamento político que a esquerda faz destes episódios». Designar por «episódio» o assassinato premeditado de um ser humano –...

Oportunidades

Insuspeito semanário nacional confirma a receita já usada em outras áreas e sectores. No SNS, por exemplo, o Governo do PS/Sócrates, na sequência do desinvestimento promovido por sucessivos governos PSD e CDS, decidiu encerrar dezenas de serviços de saúde, designadamente os SAP – Serviços de Atendimento Permanente, que...

Sem férias

A CGTP-IN divulgou na semana passada uma tomada de posição chamando a atenção para a situação dos trabalhadores com filhos pequenos que tiveram férias forçadas durante o confinamento. Apesar de a generalidade da comunicação social a ter ignorado olimpicamente, a denúncia da CGTP-IN é bem real e devia ser encarada com a...

Mentir e roubar

Enquanto os EUA se afundam na crise do Covid-19 e o seu povo se insurge nas ruas contra décadas de crescente miséria, violência policial sem limites e discriminação racial, o MNE de Trump procura a todo o custo um conflito de grandes proporções para travar o declínio dos EUA. A política dos EUA é, desde há muito, uma...