É da vida de quem trabalha que estamos a tratar

João Oliveira (Membro da Comissão Política)

Um trabalhador que esteja pelo terceiro mês consecutivo em lay-off já perdeu um mês de salário com os cortes salariais de um terço que lhe são aplicados.

Os trabalhadores e o povo fazem crescentemente sentir o seu descontentamento

Uma pequena empresa forçada a reduzir ou mesmo encerrar a sua actividade não encontra solução no endividamento através do recurso a linhas de crédito.

Uma associação de bombeiros cujas receitas dependam essencialmente do serviço de transporte de doentes pode ter perdido mais de 80% das suas receitas nos últimos três meses.

Estas três situações – que podiam ser muitas mais e provenientes das mais variadas áreas e sectores da vida nacional – ilustram três tipos de problemas concretos que precisam de resposta urgente. Resposta que não pode ser apenas um remendo temporário para manter tudo como dantes, tem de ser uma resposta imediata que aponte a política alternativa para um Portugal com futuro.

A perspectiva com que o País hoje se confronta é a de uma recessão económica profunda, do disparar do desemprego, da ameaça de encerramento de milhares de micro, pequenas e médias empresas. A origem e natureza desses problemas não estão desligadas das opções da política de direita que tornaram Portugal um país dependente do estrangeiro, que não produz o que podia produzir, onde a riqueza não é distribuída com justiça, onde os grupos económicos e financeiros tomam decisões que comprometem o futuro colectivo e afundam o país.

Esses grupos económicos e financeiros já se puseram em campo – directamente ou por interposta pessoa dos seus representantes políticos, incluindo ao nível da União Europeia – para ver se conseguem mais uma vez colocar a crise às costas dos trabalhadores e do povo, liquidando direitos e condições de vida e procurando retomar em pleno as opções da política de direita, assegurando condições para o agravamento da exploração e a acumulação de lucros, incluindo à custa do desmantelamento de serviços públicos como o Serviço Nacional de Saúde.

Por seu lado, os trabalhadores e o povo fazem crescentemente sentir o seu descontentamento, reivindicando soluções que vão verdadeiramente ao encontro das suas necessidades e enfrentem os graves problemas económicos e sociais que atingem hoje a vida de milhões de trabalhadores, agricultores, pescadores ou micro, pequenos e médios empresários.

Soluções a que o PCP tem dado voz e expressão com propostas para assegurar a defesa dos salários a 100%, a proibição dos despedimentos e a defesa do emprego e dos direitos; propostas de desenvolvimento da actividade produtiva e da produção nacional e de apoios que assegurem a viabilização da actividade do conjunto de micro e pequenas empresas; propostas de alargamento dos apoios sociais, designadamente no desemprego, e de garantia de meios de subsistência; propostas de reforço das responsabilidades do Estado no financiamento de serviços públicos essenciais às populações, como os bombeiros; ou propostas para dotar o Serviço Nacional de Saúde de capacidade para responder às necessidades imediatas do combate ao surto epidémico e para reforçar o nível de resposta aos cuidados de saúde em geral.

Propostas que o Governo e o PS não quiseram adoptar no Programa de Estabilização Económica e Social nem na proposta de Orçamento Suplementar que lhe dá expressão mas pelas quais o PCP continuará a bater-se, procurando que a sua concretização se traduza num passo adiante na luta pela política alternativa de que o País necessita.

Porque quando tratamos da política alternativa é da vida de quem trabalha que estamos a tratar.




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