Solidariedade com o povo brasileiro

Albano Nunes

Está em curso no Brasil um pro­cesso re­ac­ci­o­nário e obs­cu­ran­tista

A grave si­tu­ação no Brasil não pode deixar ne­nhum de­mo­crata e an­ti­fas­cista in­di­fe­rente.

Não há um só dia em que o Brasil não ocupe lugar des­ta­cado nos média por­tu­gueses. Apa­ren­te­mente a in­for­mação abunda, no­me­a­da­mente quanto às trá­gicas con­sequên­cias da ir­res­pon­sa­bi­li­dade e des­prezo pelo povo, na res­posta go­ver­na­mental ao surto epi­dé­mico. O ver­go­nhoso es­pec­tá­culo de Bol­so­naro e seus acó­litos entra-nos todos os dias pelos olhos dentro. In­fe­liz­mente porém, mais do que in­formar e es­cla­recer, o bom­bar­de­a­mento com os dis­lates de­men­ciais e trau­li­teiros do usur­pador fas­cista tendem a ba­na­lizá-los e a des­va­lo­rizar o real pe­rigo de uma nova di­ta­dura. Uma di­ta­dura de cariz fas­cista, com ou sem Bol­so­naro, cujo papel de ponta de lança do grande ca­pital bra­si­leiro mais li­gado aos EUA tende a es­gotar-se. Com ou sem Sérgio Moro, o «juiz» que, uma vez cum­prida a sua missão gol­pista num ver­go­nhoso pro­cesso de po­li­ti­zação da jus­tiça, ra­pi­da­mente trocou a toga por uma me­di­a­ti­zada pas­sagem pelo Mi­nis­tério da Jus­tiça.

É uma evi­dência que no Brasil está em curso um pro­cesso pro­fun­da­mente re­ac­ci­o­nário e obs­cu­ran­tista em ali­ança su­bal­terna com o im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano, e que a re­sis­tência das forças de­mo­crá­ticas, dos tra­ba­lha­dores e do povo bra­si­leiro pre­cisa da nossa so­li­da­ri­e­dade. So­li­da­ri­e­dade que sendo para o PCP uma questão de prin­cípio se torna ainda mais im­pe­riosa pelos laços de ami­zade que a His­tória, no seu devir con­tra­di­tório, teceu entre o povo bra­si­leiro e o povo por­tu­guês, e pela exis­tência de im­por­tantes co­mu­ni­dades de emi­grantes nos dois países.

So­li­da­ri­e­dade que será tanto mais forte quanto, afas­tando a cor­tina de fumo que im­pregna a co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante, não se perder de vista que a grave si­tu­ação ac­tual no Brasil ra­dica num golpe de es­tado que de­pois de des­ti­tuir a le­gí­tima pre­si­dente do Brasil, Dilma Rous­seff, or­ga­nizou, sob a ba­tuta de Sérgio Moro (hoje ge­ral­mente tra­tado como um im­po­luto de­fensor do «Es­tado de di­reito») a pa­ródia de jus­tiça que en­car­cerou Lula da Silva para o im­pedir de par­ti­cipar e vencer as elei­ções pre­si­den­ciais.

So­li­da­ri­e­dade que vi­sando em pri­meiro lugar a de­fesa das li­ber­dades fun­da­men­tais e im­pedir a con­su­mação no Brasil de uma nova di­ta­dura é si­mul­ta­ne­a­mente de so­li­da­ri­e­dade para com as forças pa­trió­ticas, de­mo­crá­ticas e pro­gres­sistas e com todos os povos da Amé­rica La­tina, ví­timas de uma vi­o­lenta e so­fis­ti­cada contra-ofen­siva agres­siva do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano para tentar re­verter os avanços de pro­gresso so­cial e so­be­rania que per­cor­reram o con­ti­nente sul ame­ri­cano após o triunfo do pro­cesso bo­li­va­riano na Ve­ne­zuela e res­ta­be­lecer a sua he­ge­monia na­quele que sempre con­si­derou o «pátio das tra­seiras» dos EUA.

So­li­da­ri­e­dade que não es­quece a par­ti­ci­pação de Por­tugal ao mais alto nível do Es­tado na to­mada de posse da pe­ri­gosa ma­ri­o­neta que passou a ha­bitar o Pa­lácio do Pla­nalto em Bra­sília e que não pode deixar de re­clamar a rec­ti­fi­cação de tão de­son­rosa de­cisão e uma po­sição do Es­tado por­tu­guês de acordo com os prin­cí­pios, os va­lores e a letra da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa.




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