Júdice e o «costismo»

Filipe Diniz

Qualquer reaccionário letrado tem lugar na comunicação social dominante. Se tiver um currículo de militância na extrema-direita tem praticamente assinatura, como acontece com José Miguel Júdice.

A seguir ao 25 de Abril, e na sequência da sua militância salazarista estudantil, andou por organizações colonialistas, fascistas e bombistas. Hoje, e há muito, é um dos oráculos que opina quase quotidianamente.

Achando pouco, o Público entrevistou-o mais uma vez (7 páginas + capa, 7.06.2020). A entrevistadora está à altura: Maria João Avillez. O diálogo é notável, e não apenas pelo aberto reaccionarismo de ambos. É igualmente notável pelo largo estendal de dislates, emitidos com todo o à-vontade de que a direita sabe hoje dispor na comunicação social. Não há lá ninguém para contrariar.

Júdice é entrevistado para opinar porque «adora fazer análise psicológica dos políticos» embora seja «mais exacto sobre os que conhece melhor», o que já seria extraordinário. Mas não tão extraordinário como por exemplo a afirmação sobre Mário Soares de que foi comunista, e «morreu comunista».

O reaccionário par de jarras faz o rasgado louvor do oportunismo e do manobrismo sem princípios. Está desejoso de descortinar o «bloco central» que aí vem (e que removerá a «extrema-esquerda» do «centro do poder»). Enche António Costa (e o «costismo») de elogios por isso mesmo. E por aí se explica o preencher 7 páginas do jornal com semelhante diálogo.

A direita conhece bem o PS. Não lhe bastam todas as matérias fundamentais em que está inteiramente alinhado à direita. É-lhe necessário – e imaginará que a situação actual é favorável nesse sentido – o regresso em pleno daquele PS que, em alternância com PSD e CDS, tem sido fiel executor das encomendas da política de direita.




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