Milhões de Bruxelas não são «solução milagrosa» para os problemas do País
ECONOMIA O anunciado «fundo de recuperação» de 750 mil milhões de euros de Bruxelas para apoiar a economia face aos impactos da COVID-19 não é o que parece. A factura vai ser pesada e novas parcelas de soberania são postas em xeque, alerta o PCP.
O País precisa de resgatar instrumentos de soberania
Uma verdadeira operação de propaganda está montada em torno da ideia de que o dinheiro a disponibilizar pela União Europeia será o remédio para todos os males que advieram com o surto epidémico que ainda grassa no espaço europeu. «Ainda não se sabe bem como nem a que condições está associado», mas o «enorme foguetório» foi já montado, desde logo pela «União Europeia, a partir do eixo-franco alemão, que procura surgir agora como detentora da solução milagrosa para os problemas existentes», mas também pelo Governo português que, «deslumbrado ou não, embarca na encenação».
Foi nestes termos que a deputada comunista Paula Santos descreveu, em declaração política em nome da sua bancada no dia 8, o quadro que está criado e sobre o qual permanecem zonas de penumbra que estão longe de ser clarificadas. Isto depois de a União Europeia ter deixado «cair a máscara da solidariedade e da cooperação», de revelar a sua «verdadeira natureza e a prevalência dos interesses das principais potenciais e os interesses dos grandes grupos económicos, em detrimento da defesa dos povos», criticou, lastimando a ausência de uma «resposta adequada» por parte da UE aos problemas e, nalguns casos, situações dramáticas que emergiram da pandemia, quer no plano da saúde quer no plano económico e social.
«É dito que a maior parte é dado como subvenção aos Estados, mas omitem que o que estão a pensar é mandar-nos depois a factura», advertiu a parlamentar do PCP, certa de que o pagamento do empréstimo que suporta o fundo será assegurado depois «quer pela via de um já sugerido aumento das contribuições por cada país quer pela via da criação de «impostos europeus».
Passos na direcção errada
«Estão a pensar em abrir mão de um adiantamento mas por conta de pagamentos futuros, com a agravante de novas parcelas da soberania nacional serem comprometidas, em matéria de impostos, bem como na definição de uma política de desenvolvimento industrial à sombra e em nome de uma artificial soberania europeia», acusou Paula Santos, convicta de que o directório das grandes potências, a pretexto do surto, intenta «dar novos passos no processo de integração, para tirar mais competências e recursos financeiros de cada Estado-Membro, na tal “união fiscal”, num processo de centralização de poder, para servir os interesses dos do costume».
Pronunciando-se sobre a verba de cerca de 15 mil milhões de euros que está destinada ao nosso País (dos 500 mil milhões de euros a repartir pelos Estados), a deputada do PCP foi taxativa na consideração de que tal montante «não compensa as consequências do euro, do mercado único e das políticas comuns». Mais, enfatizou, «está longe de responder às necessidades do País» e estabeleceu uma comparação: «é bem inferior aos cerca de 30 mil milhões de euros que saíram do País para offshores e paraísos fiscais».
Considerou por isso ser essencial, dado também o seu «carácter insuficiente», que os montantes financeiros a disponibilizar o sejam «sob a forma de subvenções», e que sejam colocados ao «serviço da valorização do trabalho e dos trabalhadores, da defesa e promoção da produção nacional e dos sectores produtivos, da recuperação dos sectores básicos e estratégicos da economia, do reforço dos serviços públicos e das funções sociais do Estado».