Soluções que fazem falta ao País defende o PCP na União Europeia
SOBERANIA O PCP considera fundamental assegurar que as verbas a que Portugal poderá vir a aceder, no quadro da União Europeia, sejam a fundo perdido e colocadas ao serviço do desenvolvimento soberano do País.
Propostas do PCP constituem uma resposta efectiva à grave situação actual
As recentes propostas apresentadas pela Comissão Europeia, relativas ao Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027 e ao denominado «fundo de recuperação», não dão a resposta necessária aos problemas dos trabalhadores, do povo e do País que estão na origem do aumento da exploração, das desigualdades sociais e das assimetrias de desenvolvimento entre países, considera o Partido Comunista Português.
Não deixando de adoptar, no plano nacional, todas as medidas que se impõem para, independentemente da UE, ou apesar dela, responder às necessidades de financiamento das respostas sociais e económicas exigidas pela situação actual, o Governo português «deve intervir resolutamente no plano da UE de forma a contrariar a continuação das políticas que estão na raiz dos problemas que Portugal enfrenta», defende o PCP, numa nota do seu Gabinete de Imprensa, datada de 29 de Maio, abordada na edição anterior do Avante!.
Independentemente do carácter insuficiente e temporário das verbas a que Portugal poderá vir a aceder ou a candidatar-se no quadro da UE, «é fundamental assegurar que estas sejam disponibilizadas sob a forma de subvenções (verbas a fundo perdido) e que sejam colocadas ao serviço da valorização do trabalho e dos trabalhadores, da defesa e promoção da produção nacional e dos sectores produtivos, da recuperação para o sector público dos sectores básicos e estratégicos da economia, da garantia de uma administração e serviços públicos ao serviço do povo e do País, do desenvolvimento soberano de Portugal».
Propostas do PCP
Com vista a estes objectivos, o PCP tem vindo a defender importantes propostas, nomeadamente no Parlamento Europeu, que correspondem aos interesses dos trabalhadores, do povo e do País e que mantêm inteira pertinência e actualidade, entre as quais:
– Um significativo reforço do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2017, assegurando plenamente a função redistributiva do orçamento comunitário e o objectivo de uma efectiva coesão económica e social, apoiando os sectores produtivos, o emprego com direitos, os serviços públicos;
– Um orçamento que deve ser construído, fundamentalmente, a partir de contribuições nacionais, de acordo com o princípio de que os países com maior rendimento e que mais têm sido beneficiados com o processo de integração devem contribuir proporcionalmente mais;
– A flexibilização do orçamento da UE, dando liberdade aos Estados-membros para realocar verbas entre fundos, rubricas e prioridades, de acordo com as suas necessidades económicas e sociais; e a elevação das taxas máximas de cofinanciamento da UE até 100%, em regime de adiantamento e não de reembolso de despesas;
– A anulação da fracção da dívida pública emitida pelos Estados durante todo o período de superação das consequências da epidemia de COVID-19 que esteja na posse do Banco Central Europeu (BCE) e conste do respectivo balanço, assegurando desta forma a manutenção formal dos níveis de dívida pré-surto epidémico;
– Uma derrogação do artigo 123.º do Tratado de Funcionamento da UE, abrindo a possibilidade de financiamento directo do BCE aos Estados-membros, nomeadamente através da compra directa de títulos da dívida pública nacionais, evitando a actual intermediação dos mercados financeiros, os ataques especulativos contra as dívidas soberanas e os lucros do capital financeiro à custa da redução das receitas que os Estados poderiam obter com uma venda directa de títulos da dívida ao BCE;
– A renegociação das dívidas públicas, nos seus prazos, juros e montantes, permitindo redireccionar recursos da dívida para as urgentes e necessárias respostas económicas e sociais nos Estados-membros;
– A revogação de todos os mecanismos que constrangem e condicionam a margem de manobra dos Estados-membros na promoção do investimento público, no financiamento dos serviços públicos e das suas funções sociais, na dinamização da actividade económica, como o Pacto de Estabilidade, a legislação da Governação Económica, o Semestre Europeu ou o Tratado Orçamental;
– A rejeição da criação de «impostos europeus», que representam a subversão da soberania dos Estados sobre a sua política fiscal e o desvio de verbas essenciais ao desenvolvimento económico e social de um país;
– A adopção de medidas para travar a especulação financeira e a acção predatória do capital financeiro, nomeadamente por via do controlo, que se revele adequado, da circulação de capitais;
– A criação de um programa ao nível da UE que enquadre uma saída negociada da moeda única dos países que o decidam fazer, recuperando soberania monetária, readquirindo a capacidade do respectivo Banco Central Nacional emitir moeda, funcionando como prestamista de último recurso, capaz de financiar o Estado e fornecer margem de manobra face à chantagem dos mercados financeiros.
Este conjunto de propostas, entre outras apresentadas, constituem uma resposta efectiva à grave situação actual, que tem em conta as necessidades dos trabalhadores, dos micro, pequenos e médios empresários e do País, em especial nos planos da protecção social dos mais afectados e desfavorecidos, da defesa do emprego com direitos e dos serviços públicos, do apoio aos sectores produtivos e do relançamento da actividade económica.