Sem máscara

Pedro Guerreiro

O imperialismo tenta levar ainda mais longe a sua ofensiva

A situação decorrente do enorme impacto da COVID-19 na situação internacional veio demonstrar que as grandes potências imperialistas, e em particular o imperialismo norte-americano, não têm quaisquer escrúpulos em prosseguir, e até intensificar, a sua criminosa acção de desestabilização, confronto e agressão contra países que não abdicam da sua soberania e que, neste momento, empenham grandes esforços na prevenção e combate ao surto epidémico.

Os EUA, com o apoio activo (ou passivo) dos seus cúmplices, não só mantêm as sanções e bloqueios económicos que impõem à Síria, a Cuba, à Venezuela ou ao Irão, entre outros países, como impedem que instituições do sistema das Nações Unidas por si dominadas – como o FMI – concedam empréstimos de emergência solicitados pela Venezuela ou o Irão, procurando impedir que estes países adquiram os medicamentos e o equipamento médico necessário à salvaguarda da saúde dos seus povos.

Só pode ser motivo de indignação que, no momento em que o governo venezuelano implementa medidas para prevenir e combater o surto epidémico, a Administração Trump decida concentrar tropas norte-americanas e realizar intimidatórias manobras militares junto à fronteira da Venezuela, chantageando o povo venezuelano com a ameaça de uma agressão militar directa.

É nesta deriva do imperialismo que se insere a delirante operação de desinformação e difamação contra a China, lançada pela Administração norte-americana e amplamente reproduzida pelo coro de fiéis seguidores, incluindo em Portugal.

O que é insuportável para o imperialismo é o impressionante e evidente contraste entre a atitude dos EUA e das grandes potências da UE, caracterizada pelo «salve-se quem puder», e a acção da China, de Cuba, assim como da Rússia e de outros países, cuja atitude se pautou pela pronta solidariedade e cooperação, não só entre si, mas igualmente com dezenas de outros países afectados pelo surto epidémico. Um contraste que é igualmente patente na superior capacidade que estão a demonstrar a China ou Cuba na prevenção e combate ao surto epidémico nos seus países, face à incapacidade demonstrada por alguns dos países capitalistas mais desenvolvidos, com um destruidor legado de privatizações e desmantelamento de serviços públicos – nomeadamente de saúde – e de alienação de outros instrumentos essenciais para garantir necessidades básicas das populações.

A boçal hostilidade da Administração norte-americana contra a China, para além de constituir uma ‘cortina de fumo’ com que procura encobrir as graves consequências das incoerentes e inadequadas medidas adoptadas nos EUA para fazer face ao surto epidémico, revela igualmente a maquiavélica intenção de instrumentalizar o surto epidémico como arma na ‘cruzada’ que os EUA levam a cabo contra aquele país asiático.

O imperialismo, embora abalado pela actual situação, não deixará de tentar levar ainda mais longe a sua ofensiva exploradora e opressora. Ofensiva que, a não ser contrariada, significará uma ainda maior acumulação e centralização do capital, o agravamento das desigualdades, o aprofundamento de relações de dependência e de domínio económico e político, a subversão dos princípios inscritos na Carta das Nações Unidas e no direito internacional.



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