A liberdade e o cabrito da Páscoa
A campanha desencadeada contra o 25 de Abril assumiu contornos grotescos, que só se podem compreender, quer pelo ódio de classe que as suas conquistas e valores suscitam nas classes dominantes, quer pela situação muito complexa a que o bombardeamento ideológico, o medo e o confinamento, sujeitam as classes dominadas.
Ninguém está satisfeito. Semanas encafuados em casa, impedidos de circular, de fazer a rotina diária. Muitos já sem trabalho ou com salário cortado. As crianças não se calam durante o teletrabalho. O avô no lar que não se pode visitar. A incerteza do futuro. As constantes proibições e alertas. Vai ficar tudo bem, dizem! Sim. Já se percebeu que o vírus vai ser dobrado, mas o que será da vida de muitos, depois disto?
A campanha contra as comemorações do 25 de Abril, usando poderosos meios, instrumentalizou esse estado de espírito. De um lado a festa, os políticos, a permissão para aparentemente se poder fazer o que a todos está proibido, a irresponsabilidade que nos coloca em perigo, do outro lado, um Povo que sofre. O alinhamento da comunicação social com os sectores mais reaccionários do capital foi determinante, com a sucessão de entrevistas, de petições e a deturpação do tema da forma sinistra e o primarismo dos argumentos usados e que desaguou nas não menos instrumentalizadas redes sociais. Pelo meio, muito boa gente foi arrastada, sucumbindo perante a demagogia e argumentos fascizantes, sem terem a percepção de que, o ataque às comemorações do 25 Abril, é parte integrante da ofensiva contra a democracia, os direitos e as liberdades dos trabalhadores e do povo. E atacando Abril, que «não tem lepra» segundo Marques Mendes, a seguir vem o 1.º de Maio com o folhetim a que continuaremos a assistir.
É a agudização da luta ideológica, perante uma não menos aguda luta de classes. Sendo que o ensaio que agora fizeram tem objectivos mais profundos: o de impedir a luta e reaccção popular ao rolo compressor dos direitos e da exploração que aí vem. Por isso é tão importante que Abril saia à janela para cantar a Grândola no dia 25 e que, no 1.º Maio, os trabalhadores façam ouvir a sua voz nas iniciativas da CGTP-IN.