Por natureza, desumano e cruel

Manuel Rodrigues

«Todas as crianças, de todas as idades e em todos os países estão a ser atingidas pelos efeitos sócio económicos da pandemia sendo que os efeitos da crise podem vir a ter impactos de longa duração sobretudo nos países mais pobres onde existe mais vulnerabilidade», refere um documento da ONU divulgado na passada sexta-feira e elaborado pela Unicef, o fundo das Nações Unidas para a Infância.

Segundo a Organização das Nações Unidas, os três aspetos principais da crise sobre as crianças dizem respeito à infecção pelo vírus, os impactos sócio-económicos relacionados com as medidas contra a propagação da COVID-19 e os efeitos que atingem, a longo prazo, a implementação dos objetivos para o desenvolvimento sustentável. 

De acordo com o relatório, entre 42 a 62 milhões de crianças correm o risco de pobreza extrema por causa da presente crise sanitária, juntando-se assim aos 386 milhões de crianças que já se encontravam em situação de pobreza extrema em 2019. 

As Nações Unidas indicam que 188 países adoptaram medidas que levaram ao encerramento dos estabelecimentos de ensino, afectando globalmente 1,5 mil milhões de crianças e jovens.

É claro que a COVID-19 contribuiu para tornar mais visíveis e mesmo para agravar as enormes desigualdades e flagelos sociais de que o capitalismo é o grande responsável e que faz destas camadas sociais as mais expostas e vulneráveis às situações de guerra, calamidades naturais, epidemias e catástrofes.

Ou seja, depois da exploração e da opressão que as empurra para os guetos sociais, privadas da escola, dos sistemas públicos de saúde e de segurança social, estas crianças ficam expostas à miséria extrema, à agressão e à barbárie.

Chocante retrato de uma sociedade brutalmente desigual que urge transformar eliminando a verdadeira causa do problema essencial: a exploração e opressão capitalista, com a sua natureza desumana e cruel.




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