A triste sina de Guam

Filipe Diniz

Pode surgir de re­pente o in­te­resse por uma coisa dis­tante e menos co­nhe­cida, e des­co­brir-se uma his­tória des­gra­çada. É o caso de Guam, uma ilha no Pa­cí­fico. A his­tória de um en­ca­de­a­mento de acon­te­ci­mentos de es­cala te­lú­rica, a co­meçar li­te­ral­mente pela sua origem ge­o­ló­gica – na zona de con­tacto entre as placas tec­tó­nicas do Pa­cí­fico, das Ma­ri­anas e do mar das Fi­li­pinas, o que pro­voca sismos de forte in­ten­si­dade – e a acabar por su­ces­sivos sé­culos de co­lo­ni­zação e ocu­pação.

É uma pla­ta­forma es­tra­té­gica no Pa­cí­fico: ocu­pada pelos fas­cistas ja­po­neses após o ataque a Pearl Harbor e re­o­cu­pada pelos EUA em 1944, estes ins­ta­laram ali uma enorme base da força aérea que de­sem­pe­nhou papel cen­tral du­rante a guerra do Vi­et­name. Aliás, Guam par­tilha com o Vi­et­name outra tra­gédia: o tó­xico «agente la­ranja» foi lan­çado pelos EUA em ambos os países, no Vi­et­name para des­flo­restar e em Guam para im­pedir o avanço da flo­resta tro­pical nos ter­renos da base mi­litar. Os de­vas­ta­dores e pro­lon­gados efeitos na saúde das po­pu­la­ções são os mesmos.

A ONU in­cluiu Guam entre os ter­ri­tó­rios cuja des­co­lo­ni­zação seria de con­si­derar. Foi criada uma «co­missão de des­co­lo­ni­zação» tu­te­lada, como seria de prever, pela po­tência co­lo­ni­za­dora. Es­tando os EUA a re­tirar pes­soal da base de Oki­nawa, grande parte dele será trans­fe­rido para Guam.

E agora a úl­tima: Guam é o ter­ri­tório do Pa­cí­fico mais atin­gido pela CCOVID-19. Os seus ser­viços sa­ni­tá­rios estão à beira da rup­tura. Mas como boa parte dos 5000 ho­mens da tri­pu­lação do porta-aviões The­o­dore Ro­o­se­velt está con­ta­mi­nada, os EUA de­ci­diram de­sem­barcar 3000 na ilha, o que deixou a po­pu­lação em jus­ti­fi­cado pâ­nico.

A con­tenção da pan­demia re­quer iso­la­mento e até algum «cordão sa­ni­tário». De­veria con­si­derar-se a questão em re­lação ao im­pe­ri­a­lismo EUA.




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