Não há como fugir

Vasco Cardoso

Não há como fugir a uma abordagem sobre as consequências do surto epidémico do Covid-19. Os impactos reais na saúde são graves e conhecidos e dispensavam o alarmismo e catastrofismo que se lhes juntou e que tem sido amplificado por uma comunicação social assente em critérios que servem interesses obscuros e com consequências, no plano ideológico, tão ou mais graves do que as  provocados pelo próprio vírus.

Mas a rápida evolução da situação veio também pôrr em evidência a inconsistência dos dogmas do neoliberalismo e os limites e contradições do capitalismo. Particularmente evidente é o desconforto com que muitos lidam perante a eficácia com que a China – o mais populoso País do mundo - respondeu, quer nos planos sanitário, económico e social, quer no plano da solidariedade. Na ausência de outros argumentos, sobra sempre a acusação de que se trata de uma «ditadura», enfim….

Portugal é um exemplo dessa realidade. Onde estão os que durante anos justificaram o abandono da produção nacional, defenderam o mercado comum, o ataque à agricultura familiar, o abate da nossa frota pesqueira, a desindustrialização do País? Ou os que se estiveram nas tintas para a produção nacional de medicamentos, retirando o País da dependência das multinacionais farmacêuticas? Ou os que se encarregaram de puxar pelas «virtudes» dos seguros de saúde e das clínicas e hospitais privados e atacar o SNS, quando perante a situação actual se torna evidente que, ou há um SNS robusto e capaz, ou as populações ficam entregues a si próprias. De uma penada, tornam-se evidentes os impactos da política de direita que colocaram Portugal sob o domínio dos monopólios. Sim, sem soberania, incluindo a monetária, sem o controlo público das empresas e sectores estratégicos, sem serviços públicos que respondam às necessidades das populações, sem salários e rendimentos dignos que dinamizem o mercado interno, sem instrumentos de planificação e direcção económica, sem produção nacional, o País fica sujeito às mais imprevisíveis consequências. É de facto um momento para que muitos possam reflectir sobre o presente e o futuro. E haverá futuro, sem uma ruptura com a política de direita, sem uma política patriótica e de esquerda?




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