PS, PSD e CDS mantêm garrote nos serviços de saúde
SAÚDE O Parlamento rejeitou o projecto de lei do PCP para excepcionar os serviços públicos de saúde da lei dos compromissos e dos pagamentos em atraso.
O subfinanciamento dos serviços é um problema estrutural no SNS
Lusa
O diploma obteve os voto favoráveis, além da bancada comunista, do PEV, BE, PAN e da deputada não inscrita Joacine Katar Moreira. Contra estiveram PS, PSD e CDS, optando a IL pela abstenção. Um texto do BE de natureza idêntica teve igual desfecho.
A iniciativa legislativa da bancada comunista foi pensada estritamente com o fito de resolver problemas concretos com que hoje os centros de saúde e os hospitais estão confrontados.
Objectivo que ganha maior acuidade e pleno sentido se se pensar, por exemplo, no actual surto epidémico que assola o País e na necessidade de aquisição de material e equipamento diverso. Do que se trata, pois, como sublinhou na apresentação do diploma a deputada comunista Paula Santos, é de criar um regime excepcional que, a exemplo do que já acontece para as autarquias, impeça que os serviços de saúde fiquem «dependentes e condicionados» por legislação que é um «obstáculo» ao seu funcionamento, que «prioriza critérios de natureza administrativa, económica e financeira, secundarizando as necessidades de saúde».
Daí a bancada comunista querer ver excepcionado do cumprimento da lei dos compromissos e dos pagamentos em atraso, criada em 2012 pelo PSD e CDS, a aquisição de medicamentos, de produtos químicos e farmacêuticos, de material de consumo clínico e dispositivos médicos e de bens e serviços, bem como a execução de investimentos cujos projectos tenham sido aprovados com fundos comunitários ou tenham cabimentação orçamental.
A saúde primeiro
«A defesa do direito constitucional à saúde deve prevalecer sobre quaisquer critérios de ordem exclusivamente económica e financeira», insistiu Paula Santos, sublinhando ser inconcebível que desde 2017 tenham sido já recusados pelo Tribunal de Contas mais mais de 40 contratos.
Contratos relativos à satisfação de necessidades tão importantes como sejam a aquisição de medicamentos (para o tratamento de doenças oncológicas, HIV/SIDA, artrite reumatóide, por exemplo), para a aquisição de bens e serviços (alimentação e tratamento de roupas, entre outros), para contratos de manutenção, para a realização de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, para, inclusivamente, a realização de investimentos em unidades de saúde.
«A aplicação da lei dos compromissos e dos pagamentos em atraso é tão somente um obstáculo no funcionamento adequado dos hospitais», considerou, em síntese, Paula Santos.
Desculpas esfarrapadas
O problema é da «sub-orçamentação», dos «gestores nomeados pelo Governo, do ministro das Finanças e dos orçamentos aprovados», sustentou o PSD, pela voz de Álvaro Almeida, perspectiva comungada por Ana Rita Bessa (CDS), que disse que o problema está nas elevadas dívidas dos hospitais e no subfinanciamento dos serviços.
Mesmo admitindo que o problema do financiamento fique resolvido tal «não significa que os serviços passem a funcionar em condições se a lei se mantiver tal qual está», contrapôs Paula Santos.
Ainda em resposta aos deputados do PSD e CDS, que disseram defender o SNS, a deputada comunista fez notar que a prática de ambos o que revela é «exactamente o oposto».
«Quando falam que a despesa deve ser controlada, sabemos bem o que isso significa: quando estiveram no governo cortaram mais de dois mil milhões de euros no SNS, consideravam o investimento no SNS um desperdício», acusou.
Sem resposta não ficou também o PS que, por intermédio de Paulo Marques, dizendo «compreender as motivações das propostas», alegou esperar que as medidas tomadas, nomeadamente de reforço orçamental, «possam «permitir ultrapassar os constrangimentos».
«Quando esta lei foi aprovada o PS votou contra e quando o PCP levou à AR propostas para revogar a lei o PS votou favoravelmente», lembrou Paula Santos, inquirindo: «O que é que mudou? Foi o posicionamento do PS, porque o que está demonstrado é que a lei não serve».