Idlib, a batalha da verdade

Ângelo Alves

Exige-se uma clara condenação da agressão turca

Ao momento em que são escritas estas linhas está em curso uma ilegal e perigosa escalada de agressão da Turquia na província de Idlib, no noroeste da Síria. Desde o início de Fevereiro que o regime de Erdogan vinha intensificando as provocações às Forças Armadas sírias e às forças militares russas que se encontram legalmente no território a convite do governo sírio. Rompendo com os compromissos das conversações de Astana e do Acordo de Sochi – que previam a cooperação da Turquia com sírios e russos na pacificação daquela região e no combate a organizações terroristas –, a Turquia não só não cumpriu como fez tudo o que estava ao seu alcance para impedir a estabilização. Tenta agora salvar a Al-Qaeda de uma derrota militar, combatendo lado a lado com os terroristas, fornecendo-lhes armamento de todo o tipo e pondo forças especiais a «supervisionar» as suas «acções militares».

A decisão turca de reacender o conflito militar e de apoiar, agora abertamente, o terrorismo tem uma razão de fundo: impedir a quase certa vitória militar das forças sírias e a restauração da integridade territorial da Síria. Após nove anos de resistência, as Forças Armadas sírias controlam já a esmagadora maioria do território; reconquistaram importantes pontos estratégicos e a segunda maior cidade do país, Aleppo; estão a retomar o controlo das principais vias rodoviárias (nomeadamente a M5, que liga o Norte e o Sul do país); e, muito importante, cercaram na província de Idlib as organizações terroristas que agora têm apenas duas hipóteses: ou recuar pela fronteira com a Turquia, regressando muitas delas à «casa mãe», ou então, renderem-se…

A decisão da Turquia foi – note-se – precedida de mais uma operação global de desinformação que apresentou a legítima acção síria de recuperar o seu território como «uma ocupação» e uma «catástrofe humanitária» e a acção das bandas terroristas como «heróica resistência dos rebeldes». E nada disto acontece por acaso, tal como não foi por acaso que Israel tem vindo a intensificar ataques em território sírio, fazendo-os coincidir com os movimentos de entrada de tropas turcas.

O que emerge do conjunto dos acontecimentos é que a Turquia não está a agir isoladamente. Age em coordenação com Israel e de acordo com os interesses e decisões dos EUA que mantêm pelo menos 500 militares na Síria, ponderam o envio de misseis Patriot para a Turquia, empurram esse país para um conflito com a Rússia e tentam o envolvimento directo do braço europeu da NATO no teatro de guerra do Médio Oriente. A provocação de uma nova «crise» migratória faz parte dessa estratégia e os dramáticos resultados estão à vista.

Os próximos dias dirão até onde vai a Turquia e sobretudo até onde vão os EUA e a NATO. A muito perigosa situação exige uma clara condenação da agressão turca, a defesa do direito internacional e o apoio à Síria na luta pela sua integridade territorial e no combate ao terrorismo. A posição da NATO e as posições de vários governos europeus, incluindo do português, vão exactamente no sentido contrário. Não nos espanta. Temos bem presente quem e como começou esta guerra. É por isso que Idlib é também a batalha da verdade.

 



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