Frente Comum espera muitos milhares amanhã

LUTA A manifestação nacional de trabalhadores da Administração Pública, que a Frente Comum de Sindicatos convocou para amanhã à tarde, em Lisboa, por melhores salários, suscitou grande mobilização.

O Governo persiste em negar o direito à negociação colectiva

Ana Avoila, coordenadora da estrutura que reúne três dezenas dos mais representativos sindicatos dos vários sectores da Administração Central, Regional e Local, não se deteve em previsões nem em números de transportes públicos, mas admitiu que «já se percebe que esta será uma das maiores manifestações dos últimos tempos».

Em declarações ao Avante!, ao fim da tarde de anteontem, reportando-se a informações dos sindicatos e comparando com o que se verificava dias antes da manifestação realizada a 10 de Maio de 2019, Ana Avoila admitiu que a mobilização está a ser superior, em alguns sectores e regiões.

A dirigente deu por certo que na manifestação estarão «muitos milhares de trabalhadores» e que «centenas e centenas de locais de trabalho vão estar fechados, para vir tudo para Lisboa». Na Saúde, serão cumpridos serviços mínimos, mas os efeitos serão visíveis na Educação, na Justiça, na Administração Local.

Uma expectativa elevada foi também manifestada pelo presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local. «Em relação à última manifestação, os dados que temos até agora indicam uma subida grande», disse José Correia anteontem à agência Lusa, confirmando que a proposta de uma actualização salarial de 0,3 por cento, inscrita na proposta do Orçamento do Estado, está a gerar «uma grande revolta», «um descontentamento enorme» entre os trabalhadores.

No dia 23, esta questão foi suscitada durante a reunião que uma delegação da CGTP-IN teve com o primeiro-ministro, acompanhado da ministra do Trabalho. No final, Arménio Carlos disse aos jornalistas que a confederação defendeu a convocação dos sindicatos e a alteração da proposta do Governo «enquanto ainda decorre a discussão do Orçamento na especialidade».

Caso o Governo persista na sua posição, a reunião com as organizações sindicais, marcada para 10 de Fevereiro (quatro dias depois da votação final global do OE) deverá servir para os representantes dos trabalhadores apresentarem a reivindicação de um aumento salarial extraordinário ainda este ano, disse à agência Lusa o Secretário-geral da Intersindical.

A marcação desta reunião foi considerada inaceitável pela Frente Comum, na semana passada, acusando o Governo de continuar a subverter o processo negocial, depois de ter imposto um simulacro de negociação antes da entrega da proposta de OE.

A Frente Comum de Sindicatos inclui, no Manifesto Reivindicativo para 2020, a exigência de um aumento salarial de 90 euros para todos os trabalhadores, notando que, para ficarem ao nível de 2009 (antes do congelamento salarial), os salários teriam de ser aumentados, em média, 133 euros.

Desde a convocação desta manifestação, decidida a 19 de Dezembro pela Comissão Coordenadora da Frente Comum, outras organizações – incluindo algumas que não integram esta plataforma – agendaram formas de luta para 31 de Janeiro, incluindo greves.

Uma greve nacional foi convocada pela Federação Nacional de Professores. «Perante um Orçamento do Estado que não garante, ainda, qualquer resolução dos grandes problemas que afectam a Educação e a profissão, é fundamental a adesão a esta greve e a participação na manifestação», em Lisboa, por parte de «educadores de infância, professores do Ensino Básico, do Ensino Secundário e do Ensino Superior, bem como Investigadores, que exercem a sua actividade em serviços públicos, privados ou de resposta social», refere-se no pré-aviso da Fenprof para 31 de Janeiro.

Também convocaram greve e apelaram à participação na manifestação o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, a Federação Nacional dos Médicos e os seus sindicatos, e o Sindicato dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas do Diagnóstico e Terapêutica – somando aos motivos comuns as razões específicas dos profissionais de cada sector.

A manifestação de hoje tem início às 14h30, no Marquês de Pombal.

 

Também pela ADSE

A garantia de «uma ADSE pública, solidária e ao serviço dos trabalhadores e dos aposentados» constitui igualmente razão para estar amanhã na manifestação. No dia 23, em conferência de imprensa, a Frente Comum divulgou a carta-aberta enviada nessa quinta-feira ao primeiro-ministro, defendendo «uma ADSE pública e ao serviço dos trabalhadores, com uma gestão dotada dos meios indispensáveis para resolver os problemas de forma competente e liberta de interesses e influências dos grupos que procuram a sua captura».

Declarando «frontal oposição à destruição da ADSE através da sua transformação numa mútua», a Frente Comum responsabiliza o primeiro-ministro «pelas consequências de semelhante afronta aos trabalhadores e aposentados da Administração Pública».

 



Mais artigos de: Trabalhadores

CGTP-IN prevê ano de lutas

Se o Governo e as empresas continuarem a insistir num modelo de desenvolvimento assente em baixos salários, 2020 será inevitavelmente um ano marcado por lutas de trabalhadores, admitiu o Secretário-geral da CGTP-IN, no dia 24, ao apresentar aos jornalistas as conclusões do Plenário de Sindicatos. O órgão máximo da...

Enfermeiros em greve de Norte a Sul

Greves com concentrações foi a forma que os enfermeiros encontraram para defender a concretização das progressões na carreira que lhes foram garantidas. Aqueles profissionais de saúde queixam-se de terem passado dois anos sobre o descongelamento e, nalguns casos, tudo permanecer na mesma. No Centro Hospitalar do Médio...

Descontentamento crescente entre os militares

Associação Nacional de Sargentos (ANS), Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA) e Associação de Praças das Forças Armadas (AP) promovem, ao final da tarde do próximo dia 6, uma reunião de militares. Em cima da mesa está o descontentamento crescente no meio castrense para com o tratamento de que têm sido alvo...